terça-feira, 14 de outubro de 2008

Diário de um Becadero. 2007

28 Nov 2007

Desabafos…


Neste momento não são relatos de belos lances envoltos em magníficos detalhes que me fazem sonhar ao relê-los, nem muito menos discrições de fartos abates que tenho para contar. São sim desabafos pessoais, fruto de uma época já precocemente iniciada, talvez devido à desmesurada paixão pela Dama e pelos momentos magníficos que me proporciona. Tínhamos começado demasiado cedo, e por questões climatéricas só irá certamente ter frutos tardiamente.
Este diário serve para um dia mais tarde relembrar determinados lances e em especial os momentos onde a Dama foi mais forte, onde saiu dignamente vitoriosa, qual gladiador deitado aos Leões, com a diferença que aqui a arena é-lhe familiar, onde domina na perfeição todos os seus segredos e recantos. Estes lances são muitas vezes os mais marcantes e aqueles que nos tiram horas de sono como se de espíritos ainda meio terrenos se tratassem. Lances que nos fazem reviver em pensamento, na infindável busca pela explicação mais lógica dão nosso fracasso.
Nestas primeiras linhas quero falar no que está na base de tudo, o porquê de ser caçador de Galinholas, um “Bécassier”, um “Becadero” como lhe queiram chamar. Tudo começa como um qualquer encantamento, numa feliz jornada pródiga em lances e fraca em abates, mas plena de fortes emoções e totalmente dentro do espírito do verdadeiro Bécassier, “caçar o mais possível matando o menos possível” francamente não sei dizer se é mesmo essa a minha forma de pensar, se é este o verdadeiro espírito que nutro por esta caça. Sou demasiado impetuoso e egoísta para pensar assim, embora nesta caça este lema seja quase como uma obrigação dadas as dificuldades de muitas vezes se completarem os lances, esta frase está muitas vezes vinculada à realidade e não há como fugir dela, como que requisito obrigatório a que a Dama obriga. Nesta caça a qualidade dos lances para mim tem muito mais importância que a quantidade de abates, 1 ou 2 peças cobradas de uma forma digna da Dama e sempre com um trabalho deslumbrante do cão, são o suficiente para me darem anos de vida.
Não sei se a beleza dos terrenos, a paixão demonstrada pelos cães ou a emoção do acto em si pleno de formalidades, etiqueta e sabedoria que me cativam a cada levante sombrio, esse momento único mas tão breve. Como se diz, tudo o que é bom dura pouco, nada mais adequado encontrei para descrever um levante de uma Galinhola.
Não me sinto especial por ser um caçador de Galinholas, sinto apenas que pratico algo especial, onde obtenho o máximo partido dos cães, que, conjuntamente desfrutamos de momentos únicos e especiais, sei que os cães compartilham da mesma paixão pela Dama, sei pelo seu olhar meigo de agradecimento a cada jornada. Sinto-me apenas especial pela mulher que tenho que me apoia e me dá força para viver esta minha paixão mesmo nos momentos mais duros, todos estes factores são aqueles que me fazem ser um viciado pela Bela Dama, havendo mais um factor bastante forte, a minha intrínseca necessidade de me superar de querer concretizar os sonhos e de os conseguir, pois acima de tudo sou um caçador de emoções, é isso que essencialmente procuro, a emoção a cada lance, a alegria de cada cobro seguida de uma estranha sensação de nostalgia e perda pela morte de tão belo ser que me proporciona tão belos momentos em vida, vá-se lá explicar o que passa na cabeça de um Homem.
Esta época 2007/2008 apostei tudo na Dama, tendo apenas marcado caçadas ás Galinholas, não me costumo dar mal com estas apostas, embora ainda um pouco cedo, neste momento algumas dúvidas legítimas pairam na minha cabeça.
Apostei tudo como se de um casamento se trata-se, preparando a época como se a boda fosse, com carinho e a antecedência devida, esperando da minha Dama uma paixão recíproca e que pelo menos se apresenta-se na altura devida. Mas esta qual noiva há-de comparecer, mas como manda a regra com o devido atraso. Um ano dramaticamente seco pode deitar esta união por terra, esta paixão fez-me começar a época demasiado cedo, mas o vicio falou mais alto, passados agora pouco mais de 20 dias e umas tantas jornadas ainda não vi nenhuma Galinhola, uma sequer que me brinda-se com a sua presença, um desespero saudável e uma inquietante impaciência começa agora a acercar-se de mim como que se de um amor proibido se trata-se, eu e os cães temos felizmente a força necessária para não desistirmos ou sequer nos deixar-mos levar por este sentimento derrotista, mas como qualquer paixão também esta tem de ser devidamente alimentada e nada melhor para isso que ver o cão parado naquela inexplicável expressão de firmeza e concentração absoluta, como que enfeitiçado por uma fada boa.
Hoje dia 28 de Novembro após uma tantas curtas jornadas ainda não vi nenhuma, por razões climatéricas elas encontram-se fora das habituais zonas de crença, a falta de chuva, os fogos, o calor anormal para a época e a desmesurada desflorestação nas zonas principais de nidificação na Rússia, aliado a novas rotas de migração estão a alterar tudo de ano para ano.
Ainda espero com a mesma convicção de sempre uma boa época e a tal emoção indescritível de ver o Faruck parado, de olhos vidrados no infinito onde presume que se aconchega a nossa Dama.

01-12-2007

A beleza do primeiro encontro.


Finalmente a Dama brindou-me com a sua presença, talvez tenha esperado para se mostrar no mais belo palco que alguma vez tive a oportunidade de caçar, uma zona de maracha que ladeia um ribeira de águas cristalinas e de aspecto gélido, zona é estreita, acompanha uma ribeira que segue para lá dos limites do couto, muitas silvas e salgueiros e muitos pinheiros não muito longe adornam a paisagem. Entrei para a mancha debaixo de uma ponte que une dois montes irmãos, divididos um dia longínquo por um braço do Sado. Mal me aproximei deu para sentir a presença da Dama, os meus olhos devem ter assumido aquele olhar típico da ocasião, indescritível, apenas quem me conhece entende estas palavras, a minha pele arrepia-se só por sentir o que estava para vir. Não sei se seria o forte aspecto da zona, se a minha própria vontade de ver a ave que me fazia agarrar ao ferro com a alma cheia de esperança e a cabeça invadida por inúmeros pensamentos e devaneios. O chão típico com alguma lama coberta de folhas que fazem um soalho tão do agrado da ave, eram tantos os indícios que a Dama não poderia estar hoje. Não demorou muito até o cão também ele entrar no espírito e com muita vontade e muito sofrimento à mistura pois os terrenos eram duros, começar a procurar a Dama com vigor e empenho típicos dele. Rapidamente a sensação esperada apodera-se de nós, primeiro o vislumbre depois o deslumbre especial da primeira Galinhola da época, graciosa levantou direita a uma aberta no topo do coberto, ali via a saída mais lógica pois o cão tapava um dos lados, o silvado tapava os outros 2 e eu por fim fechava uma espécie de quadrado. Um tiro e estava iniciada a época, finalmente os meus olhos encheram-se de alegria ao ver o cão com ela na boca, uma festas ao cão e a contemplação da ave, numa mescla de alegria e confirmação da minha escolha. Uma Galinhola nova linda que iria agora para uma bolsa própria oferecida pela namorada e que era agora a ocasião da estreia. A altura era de continuar, com mais vontade e o coração mais aberto e alegre. Pouco mais à frente na extrema da mancha o cão pega num rasto mas a ave não lhe permite a paragem levantando para fora da mancha e rodando para trás, não me deu oportunidade de tiro, mas sabia que a poderia levantar de novo, decidi seguir em frente e deixar a Dama acalmar, lutando contra ramos de salgueiros e elaboradas tapeçarias de silvas lá fui andando, até que decidi voltar à zona onde achava que ela poderia estar. E estava mesmo, mas esta não estava disposta a entregar-se sem dar luta, levantou-se de uma forma decidida e rápida do lado contrário do silvado onde estava o cão, errei-a com 2 tiros, faz parte! Não mais a vi, apesar de a ter procurado a ela e a qualquer outra descobrindo sempre locais lindíssimos que me alumiavam a alma a cada passo que dava, apesar de não mais ter visto algum pássaro naquele dia, tive o prazer de desfrutar de paisagens que julgava só ao alcance dos pincéis de ancestrais artistas plásticos. São momentos que ficam gravados e que me fazem dia após dia perceber que a Dama é especial, e torna especial e mágico, tudo o que a rodeia.

02-12-2007

Nem em sonhos.


Após uma viagem de mais de 3 horas e de poucas horas de sono chegamos ao Algarve, levava comigo na bagagem a esperança de uma jornada de sonho, pois por vários dias que me enchiam a cabeça com histórias de vários levantes, fartos abates e lances de sonho naquela mancha. Confesso ser um sonhador e estava disposto a também eu retornar daquele palco com belas histórias para contar.
Pouco passava das 8h quando começamos a caçar, eu, o Jorge e o Paulinho. A volta estava definida, mas depressa tudo se alterou, mal meto o pé na mancha, levanta-se uma Galinhola que ninguém contava tão cedo, ao Paulinho quase em simultâneo outra, o meu coração disparava, os meus olhos brilhavam, as minhas mãos cravavam-se na arma quase como que soldadas ás suas belas platinas. Senti algo que há muito não sentia, emoções à flor da pele, todos tivemos de nos acalmar, até mesmo caçadores experientes como eles dois sentiam a adrenalina na pele. Era tempo de recalcular a volta, o terreno era duríssimo apenas ao alcance dos verdadeiros amantes da Dama, até nisto ela tem a capacidade de escolher quem a merece, ali para a merecer há que “sofrer”. Um pinhal novo e demasiado denso repleto de velhas estevas, que, como piões atrás de muralhas de silvas protegiam o caminho até à Dama e lhe forneciam complexos labirintos secretos para se furtar. Os cães sentiam o ambiente e a nossa tensão, os Beepers iam tocando uns atrás dos outros, mas a dificuldade de progressão era evidente, poucas eram as vezes que me conseguia acercar do cão em mostra. Vezes atrás de vezes elas levantavam sem haver oportunidade de tiro, o Faruck assim como a Shepa faziam o seu trabalho, mas ali era a Dama que tinha os trunfos e ditava as regras, pelo topo dos pinheiros viam-se as Galinholas de passagem fugidas de outros caçadores, mas não é assim que gostamos delas, uma finalmente abatida e cobrada facilmente pela Shepa foi o resultado da jornada, o Paulinho com duas e uma delas com muita sorte pois não viu que a atingiu e eu indiquei-lhe onde tinha caído, o Jorge parecia um miúdo com a sua primeira bicicleta, o Uster parou-lhe 11 Galinholas e veio encher um buraco que anteriormente tinha um nome, Zaza a sua antiga fiel caçadora. Fica para recordar uma jornada que teve 5 pássaros abatidos para os 3 e onde num pequeno pinhal eu vi diferentes, cerca de 12 a 15 Galinholas e que certamente vou guardar na memória para sempre, talvez este tenha sido o local mais parecido com os filmes da Crimeia, mas mais ainda, com o melhor dos meus sonhos, algo que há bem pouco tempo julgava impossível.


6-12-2007

O impensável!


Uma jornada a atípica, pois esta é a palavra que melhor retrata o que se passou, embora a escassez de Galinholas não seja algo de novo, até mesmo uma jornada sem levantes não me é desconhecida, mas a zona em questão que eu e o cão tão bem conhecemos e onde já caçamos muito e onde há sempre alguns pássaros, se mostrou despida do sei tão habitual manto verde. Abates de pinhos e desmate para protecção dos fogos, são sempre inimigos da Dama. Desta vez nem um levante nem um rasto, simplesmente nada. A reter apenas 3 paragens do Faruck a coelhos, lances bonitos que não foram completados devido ás imposições do couto, que respeito.


8-12-2007

Maracha uma sina.


Dureza e beleza são as palavras que melhor retratam a jornada, pois a dureza da zona onde se encontram as Galinholas contrasta com a beleza do local, quase impenetráveis clareiras entre choupos e silvas fazem do local o quartel-general da Bela Dama onde ela se refugia.
A jornada começou de forma idêntica á semana anterior no mesmo local, embora agora ser feita a dois, cambiando um dentro outro fora a bater toda a mancha que se situa ao lado da ribeira, foi à Shepa que calho o primeiro levante. Não dando paragem ou por inexperiência da cadela ou por vontade da própria ave, 2 tiros errados e a primeira da manhã estava no ar, tinha esquivado por pouco e rodado para trás, decidimos procura-la e pouco depois demos com ela levantando-se novamente sem dando paragem ao rasto da cadela, rápida no levante, mas não o suficiente para se esquivar novamente ao tiro era a primeira da jornada cobrada pelo Uster. Seria talvez a “minha” Dama da semana anterior, a zona era a mesma, pensei para comigo enquanto a contemplava nas mãos.
A segunda foi abatida já no regresso e impressionantemente pelo mesmo caminho a cadela pegou num rasto que fervorosamente seguiu até a meter no ar, um trabalho espectacular da cadela que a seguiu por mais de 50 metros, que parece pouco mas que é imenso visto o local onde nos encontrava-mos a segunda abatida e novamente cobrada pelo Uster, duas cobradas e a adrenalina ao mais alto nível.
Mudando de terrenos para um ainda mais difícil e duro, onde entrar em casa da Dama era tarefa muitas vezes impossível. Uma ribeira e novamente a mesma estratégia, um de cada lado, do meu lado uma encosta íngreme do lado do Jorge a parte do vale e a importância de ter de entrar em zonas difíceis e completamente cheias de tapeçarias de silvas. Após um primeiro levante apenas indicado pelo típico grito “galinholaaa” sem tiro e sem sequer eu ver a ave, continuamos em busca de outra. Uns 80 metros à frente o cão do Jorge pega num rasto e pára uma Galinhola mesmo no centro da maracha, com alguma dificuldade o Jorge consegue acercar-se do cão e de joelho em terra consegue dar um tiro certeiro após um levante atabalhoado pelo meio de ramos e pendentes de silvas, a Dama caiu e foi cobrada por mim no topo de uma árvore a mais de 3 metros de altura pois tinha ficado pendurada nuns ramos ali à minha frente.
Fortes emoções e 3 abates, foi o resultado de uma bela jornada dura mas bela pelos vários lances vividos.

9-12-2007

Para sempre recordar.


Para mais tarde recordar poderia ser a frase que melhor caracterizava esta jornada, mas não se adequa bem ao que sinto, pois as sensações foram tão fortes que a jornada apesar de fraca em abates não me sai da cabeça, portanto para sempre recordar está mais dentro do verdadeiro espírito.
O Frick, Pointer macho com pouco mais de 1 ano teve a oportunidade dele para se mostrar nesta caça, onde esteve muito bem por sinal, bastante bem enquadrado no terreno e contido nos andamentos, muito trabalhador em terrenos de tojo pouco propícios a um Pointer, naquela zona apenas o Jorge levantou uma Galinhola com o Onil velhinho companheiro das provas, que tinha ali uma espécie de divertimento para fugir à rotina das competições, mas infelizmente o Jorge errou-a, não mais a conseguimos ver.
Depois, após uma breve e hilariante escolha do último terreno da manhã a bater, lá nos decidimos visitar os “pinheirinhos”, mais por descargo de consciência do que por forte convicção, uma zona conhecida, difícil, um cenário maioritariamente de pinheiros novos cirurgicamente plantados, com breves pinceladas de tojo e aqui e acolá uma ou outra esteva.
Entramos então na mancha, desta vez eu com o Faruck o Jorge com a novinha Setter de 7 meses a Zara, mas aqui ficou demonstrado que a experiência faz a diferença e que o Faruck é também ele um devoto apaixonado pela Bela Dama.
De repente fez-se silencio, tudo aquilo que um caçador de galinholas anseia, deixar de ouvir o chocalho e ouvir o cantar do Beeper que assinalava a primeira paragem, comigo bem posicionado o companheiro acercou-se e cortou a saída pela esquerda, ela levanta e com um disparo quase simultâneo caiu, abatida a meias mas pelo tiro do companheiro ter sido dado ligeiramente antes eu dei-lhe a ave cobrada pelo cão, o lance tinha valido a manhã.
Continuámos lá no alto, o cão possuído mostrava grande mestria e com muita calma e frieza a abordar o terreno faz novamente cantar o Beeper, estava parado coloquei-me de frente para ele, olhos nos olhos, devemos ter pensado os dois o mesmo, o sentimento era comum, ela estava ali entre nós, e estava mesmo levantou quase como que ejectada passa a grande velocidade a 50 cm da minha cabeça, virei-me rapidamente mas já era complicado e errei-a com 2 tiros, ficou no ar o cheiro a pólvora tão amargo desta vez e a frustração de não ter conseguido dar o melhor final a tão belo lance protagonizado pelo cão. A solução era prosseguir, uma tensão saudável acercava-se de nós, o cão, esse, parecia não se deixar abalar com nada, nem muito menos se deixou possuir pela nossa tensão, prosseguiu numa busca perfeita a cruzar o terreno ordenadamente e sempre sabendo onde eu me encontrava, a caçar para mim, de repente fez-se silêncio o chocalho calava-se por breves momentos, apenas o bater do meu coração ecoava naquele pinhal, interrompido pelo súbito cantar do Beeper que nos confirmava que ela estava controlada e simultaneamente nos indicava o caminho até ao cão. O que se seguiu foi algo de indescritível apenas digno de uma pintura ancestral, Faruck parado, a novinha Setter Zara em patron, eu naquela que pressupus ser e melhor posição para atirar e o Jorge na outra possível, julgamos ter o lance controlado e que ela sairia certamente para mim, mas não é, quando a enigmática ave nos dá uma lição de sabedoria e inteligência, levantando como um coelho junto ao chão após uma pequena guia do cão e rodando junto ao Jorge eliminando-me completamente o ângulo de tiro, o Jorge, incrédulo ainda rodou e atirou mas a Dama foi mais inteligente e mostrou-nos que ali manda ela.
Fica para recordar uma jornada típica de Galinholas onde os lances e as emoções superam os abates e onde o cão nos mostrou que quando há aves ele está lá para ajudar, são momentos destes que nos fazem sentir emoções que nos transportam para outra dimensão.

15-12-2007

Um feeling salva o dia.


Pouca dureza e pouca beleza era o que transparecia ao primeiro olhar no terreno, o que se veio a verificar! Um pinhal típico mas demasiado seco, mostrava que também ali tudo estava impróprio para albergar tão belo ser, o chão devia estar húmido e macio, estava seco e agreste típico de meados de Setembro, a cheirar a codorniz, a manga curta em Dezembro retirava um pouco da beleza a qualquer lance que surgisse!
Começamos pelo pinhal mas logo nos apercebemos que ali não ira-mos ter sucesso, as condições do solo eram tudo menos propícias para que as aves lá estivessem, apesar do terreno ser muito característico. Depressa abandonamos o local em busca de um outro, mais húmido e menos seco, mas tudo estava idêntico.
Guiados por mais um daqueles palpites típicos do Jorge fomos até ao ponto mais alto da herdade, um planalto despido de arvores e repleto de estevas novas com todas as condições para albergar um ou outro pássaro, o Jorge tinha grande crença naquele local, a zona apesar de ser muito alta e sem árvores e completamente ao sol, inexplicavelmente tinha o solo húmido e reunia boas condições que as galinholas tanto procuram.
Tudo se passou em pouco tempo, a Shepa em rapidamente pegou num rasto e entre as estevas fê-lo a grande velocidade até subitamente fazer uma paragem típica de Setter, linda deitada a meus pés mostrando num misto de beleza e certeza que mesmo ali diante de nós estava uma Dama, pouco depois caía a primeira tão rapidamente como levantava. Uma ave gorda e grande que ali estaria há muito tempo a alimentar-se nas devidas condições, o trabalho da cadela foi fantástico, mais um daquelas lances formidáveis que recordarei com muito gosto!
Pouco depois, o Uster pára uma que sai de umas estevas mais altas e morta sem problemas pelo Jorge. Pouco depois outra bem parada no limite das estevas como que o cão sabendo os limites do campo, fazendo as coisas no limite do fora de jogo, seguiram-se umas paragens a perdizes selvagens é lindo vê-las levantar das estevas e dar daqueles voos graciosos e rectilíneos que as caracterizam.
A zona estava feita, 3 pássaros em pouco tempo e espaço, era agora altura de ir a uma zona de maracha e ver de 2 avistadas pelo Jorge e 2 amigos na semana anterior.
Aqui sim, era terreno duro e mais lógico de ver as Damas, fizemos 3 levantes mas apenas uma morreu que se levantou ao Faruck mas que teimosamente ao segundo levante saiu da maracha do lado do Jorge, mais um cobro humano difícil no meio do silvado aguçado, que teimava em reclamar esta Dama como sua.
Belos lances e em especial o da Shepa caracterizaram a jornada.

16-12-2007

Um enigma.


Não sei se as expectativas eram altas, apenas me sentia crente num encontro com a Dama que nos tinha dado a volta nos “pinheirinhos”, começamos por uma zona onde pensávamos estar a Dama do Onil, e estava mesmo, parada desta vez pela cadela do Jorge e não atirada devido ao ângulo de saída, ficou para um segundo levante, “eu vi onde pousou!” foi a minha abrupta resposta à simultânea pergunta do Jorge “viste onde pousou?” estava à nossa frente a uns escassos 80 metros, ao trabalhos dos cães levantou entre nós, ambos disparamos, mas curiosamente naquele bosque só um tiro se ouviu, sincronizados tínhamos feito os tiros precisamente ao mesmo tempo, olhamos um para o outro e ambos encolhemos os ombros como que a perguntar foste tu que a mataste? Talvez na remota esperança de o outro dizer, não foste tu, mas nesta ocasião não havia como confirmar o autor do disparo certeiro, era impossível a Dama padeceu mas não sem nos deixar mais uma vez um enigma entre mãos, de quem era ela afinal? A forma de 2 amigos resolverem a questão foi simples, uma pena do pintor para cada um e prosseguir a caçada, pois quem a come não é relevante. Talvez seja até comida pelos dois num belo jantar de primavera a recordar o lance.
A partir daqui nada de especial se passou não vimos mais pássaros, não houve mais lances, tudo igual a si mesmo, nem nos “pinheirinhos” nem nas covas elas se apresentaram, pode ser que com este frio e chuva que se avizinham haja alguma mexida, é esperar para ver.

20-12-2007


Inesperado!

O sonho comanda a vida. Esta seria a frase mais adequada e que descreveria melhor esta jornada.
Regime livre era o cenário proposto, uma quinta-feira chuvosa, ainda ressaca de um dia anterior de pleno Inverno, com muita chuva pelo país todo, ventos impetuosos e neve nas terras altas, tudo isto fazia prever uma mexida nos pássaros, pelo menos mexeu a cabeça de muitos de nós e a minha era uma delas. 7.20h no local combinado para que ás 7.30h, começasse-mos a caçar. Antes dos “Talibans” claro, (caçadores de coelhos aos olhos do amigo Baguinho), companheiro e guia naquele dia, bom Homem, apaixonado, cumpridor e conhecedor da zona, meticuloso na caça e duro no campo como bom Alentejano que é! Mas para ele, caçadores de coelhos eram verdadeiros “terroristas” no bom sentido é claro, pois eles metiam as galinholas no ar e arrasavam quaisquer esperanças de bons lances. O Baguinho comandava as voltas, pois era bom conhecedor do local, esta época já ali tinha abatido 16 Galinholas e 3 triplas, por vezes eu e o Jorge lá no fundo confesso achar demais, mas não, Baguinho é um Sr. e o que dizia era a mais pura verdade. Entrámos na mancha, um pinhal enorme com tojo, muito, por vezes cerrado alternava com algum sargaço e estevas aqui e ali como que embelezando o leito da Dama. Pouco tempo depois de entrar-mos na mancha vejo à minha esquerda o Baguinho agarrado ao ferro com unhas e dentes, adivinhava-se mais um confronto entre velhos conhecidos, pois que entra daquela forma tão convicta de arma em punho é porque sabe onde vai pisar, tão certo como ser verdade, o Rafael “Epagneul Breton” entra em mostra, o Beeper começa a tocar e a Galinhola levanta bem a jeito da calibre 20 do amigo Baguinho que lamentavelmente estava travada, as palavras azedas foram entoadas, aí estava o primeiro lance, como compensação pouco depois o Rafael torna a para-la longe, eu apesar de ter corrido ao encontro do Beeper não cheguei a tempo pois a Dama não quis aguardar por mim levantou aos cães mas larga, não lhe toquei em nenhum dos 2 tiros.
O objectivo agora era continuar e procurar por mais, era agora a vez do Faruck que numa zona que “cheirava a pássaro” pegou num rasto até meter no ar uma galinhola mais arisca que não deu paragem, fiz um tiro e esperei que ela cai-se pois ia cambaleando e com o cão no seu encalço à espera que tomba-se, mas o obvio não aconteceu ela conseguiu prosseguir e passar o cabeço, era tempo de unir forças e tentar cobrar uma peça que julgamos e tudo fazia parecer que tinha caído bastante mal tratada, mas o azar parecia não nos abandonar, tudo foi passado a pente fino e nada, apenas o ridículo, o Faruck pega num rasto e os meus olhos expectantes de o ver cobrar a peça ferida e acabar com a angustia de deixar uma galinhola chumbada no campo, mas nem queria acreditar, em vez de uma galinhola ferida era sim uma outra ou a mesma também numa zona típica que levantou ao cão e eu como que por descargo de consciência ainda fiz 2 tiros mas nada, talvez fosse a mesma, pois esta ave carismática já não é a primeira vez que me ilude com as suas capacidades teatrais, de ao som do disparo se mandar para o chão parecendo um cair de ave ferida, e logo depois levanta novamente intocável, coisas que vamos aprendendo. Era tempo de deixar a zona e tentar mudar a sorte, deixando para trás aquilo que nenhum caçador educado gosta, uma peça ferida, ou não.
Mais uma caminhada e mais uma Dama arisca, eu à moda de treinador mudei de estratégia e tirei o chocalho ao cão, agora apenas e só o Beeper, o Baguinho avisa-me que estávamos no tentadero de uma toureira, uma velha conhecida que já por varias vezes o tinha “toureado”, levando sempre a melhor de forma digna de sair em ombros pela porta grande. Seguidamente atira a uma e levanta-se outra, não queria acreditar que haviam tantas galinholas, tão sabidas e ariscas naquele pinhal, decidimos procurar uma delas, o Beeper do Rafael toca e tudo desperta outra vez, rapidamente alcançamos o cão mas mais uma vez ela já tinha saído, eu via pouco mais à frente um pequeno aglomerado de pinheiros novos com mato apetitoso no meio, ladeados por um caminho que me despertou o instinto, o Faruck deve ter sentido o mesmo, entra e fica parado, estático de olhos vidrados, ela estava controlada, saiu-me boa e estava feito o primeiro abate.
Continuámos e numa zona básica sem características o Faruck pega vigorosamente num rasto até fazer uma paragem embelezada por um patron frontal do Rafael, bela moldura ela da um salto de peixe e pousa meia dúzia de metros à frente, meto o Faruck a guiar até ela para a por no ar, sem grande historia a segunda abatida, novamente com prova de grande desportivismo e espírito “Bécassier” Baguinho felicita-me com um aperto de mão, com a outra em sinal de respeito segurando o seu chapéu.
Era tempo de continuar, fomos então a uns pinheirinhos novos daqueles que cheiram a pássaro, e que eu tão bem conheço, mais 2 paragens do Faruck e 2 levantes rápidos e impossíveis, como dizia Baguinho “aí dentro só à Rambo”.
Era tempo de almoçar, breve pois a jornada prometia e não havia tempo a perder. Regressados com os cães mais recompostos após alguma comida e água, prontos a darem-nos mais momentos únicos, tínhamos agora a companhia do Jorge que apareceu, qual predador cheirando o sangue no ar. O dia era meu, o Faruck faz uma paragem brutal numa zona muito nua junto a um pequeno caminho, novamente aqueles olhos a dizerem ela está aqui agora é contigo, um levante rápido numa zona limpa que facilitou o tiro, a terceira do dia e uma alegria desmesurada rompia o meu rosto.
Daqui para a frente apenas conduzia o cão, não mais vi mais nenhuma, apenas o Baguinho teve lances, uma atirada que cai nuns fetos e onde o Rafael fez um cobro magnífico, a outra já com o carro à vista, bem morta e onde o Baguinho se deu ao luxo de brincar com o Jorge, “Jorge quer fazer-lhe uma festa?” foi a frase, a gargalhada era geral naquele pinhal. Boa educação e grande espírito Bécassier marcou um dia repleto de lances onde mais alguns sem grande história existiram mas que aqui não os mencionei, novamente o Faruck em grande, capaz de dia após dia me surpreender e de reclamar o seu espaço nos meus sonhos a cada noite que passa.



22-12-2007

O nariz é do cão.

Mais uma investida em Grandola a ver o que dava, as expectativas eram muito baixas à partida, começamos pelo obvio, a maracha, mas devido à chuva o solo estava com demasiada agua, uma breve sortida dentro e fora e rapidamente percebemos que ali não valia a pena, era tempo de rapidamente trocar de zona, fomos então para a cerca, mas aí a elevada densidade de coelhos meteu os cães tresloucados, colados a infindáveis rastos que os desviavam do objectivo principal para que ali estavam, decidimos ir procurar uma velha conhecida numa maracha ali próxima, mas também ela nos tinha deixado, a melhor solução era mesmo almoçar e rumar rapidamente à para cima a terrenos mais propícios.
Primeiro local a ver foi a zona dos Pinheirinhos a ver se uma velha conhecida e muito toureira estava lá. E estava mesmo, parada pelo Uster com um patron do Faruck saiu-me mais perto de mim, só a ouvi pois tapou-se muito bem, pouco à frente o Uster pára-a novamente e ela sai já desligada do cão entre ele e o Faruck direita a mim mas com o caminho interrompido por um tiro certeiro do Jorge, feitas as devidas homenagens e comentários lá seguimos.
Trocamos para outra zona onde também era casa de outra Dama, foi o Faruck a para-la mas lamentavelmente não cheguei a tempo de a ver sair, o tojo denso limitava o caminho e atrasava o encontro que acabou por ser só do cão.
Pensamos então ver novos terrenos onde não tínhamos ainda caçado este ano, a zona era boa, muito parecida com os pinheirinhos, o Frick era o escolhido, o tempo passava e nada apenas ecoava na minha cabeça o pensamento de estranheza por não estar ali nenhum pássaro, quando o Frick pega numa rasto mesmo no limite da mancha e levanta uma Galinhola era o seu primeiro encontro com uma Dama, eu estupidamente não quis acreditar no cão por ele ser novo, por o dia estar a correr mal e mal posicionado tive de correr para ter uma brecha para atirar 2 desesperados tiros à espera de um milagre que resolvesse repor o meu erro infantil de não acreditar no cão, mas não, era um dia para esquecer e voltar para casa sem nenhum abate e com a tristeza de não ter conseguido dar o melhor seguimento ao primeiro lance do Frick, fica a lição importante, são os cães que têm o nariz e ele existe para alguma coisa sejam cães velhos ou novos.

23-12-2007

Assim até parece fácil.


Mais uma voltinha rápida ao pinhal onde tinha tido uma jornada de sonho com o Baguinho. Desta vez mais tarde e com o Jorge a volta começou como a anterior, mas sem as indicações sábias do Baguinho depressa nos embrenhamos por um terreno demasiado igual sem conseguirmos encontrar a mancha desejada, onde eu, na semana anterior tinha visto mais pássaros, a solução residia em ir caçando ao mesmo tempo que palmeavamos terreno esperando encontrar a tal mancha encantada. A solução foi a melhor pois o Uster parou a primeira abatida sem dificuldade pelo Jorge, a primeira estava feita e naturalmente como habitual instalava-se um sorriso rasgado na cara dele.
Mudando de zona entramos por um corta-fogo onde de arma aberta ia-mos os dois à conversa até uma zona mais adiante de pinhal mais velho e com aparentes melhores características, quando o Faruck a escassos 20 metros do caminho fica parado num pequeno arbusto de mato preto, uma zona aparentemente fraca para estar ali um pássaro, o beep toca, eu fecho a arma e dirijo-me ao cão, o Ustrer patrona e a Dama sai, um tiro e um cobro limpo assim até parece fácil. O Jorge, sem pagar bilhete, viu tudo da plateia, um espectáculo fantástico, rodeado de eficácia por parte dos cães.
Daqui para a frente não vimos mais pássaros, não houve mais paragens nem levantes, era hora de ir embora e deixar aquele pinhal mágico para daí a uma semana fazer uma última jornada.

27-12-2007

Haja pássaros.

Era a segunda vez que caçava nesta herdade, da primeira, apesar das enormes expectativas as coisas não me tinham corrido bem, nem a mim nem a ninguém do grupo de 4 que caçamos lá.
Desta vez as coisas foram um pouco diferentes, entramos na mancha, calhou-me por sorte ficar à direita do Carlos Lopes que fazia a ponta que guiava uma pequena mas ampla linha de 4 caçadores, pouco depois a novinha Zara pára a sua primeira Galinhola numa zona húmida e mais alta de onde me encontrava, um tiro fácil e a primeira do dia no chão, o Carlos chama-me para eu fazer uns pequenos vales com bom aspecto como que se adivinha-se o que seguiria e o impensável acontece, há então um primeiro lance e uma galinhola abatida sem aparente dificuldade, mando cobrar e quando o cão vem com ela na boca levanta-se outra que estava a pouco mais de 2 metros onde levantara a primeira, incrédulo faço ainda o único tiro que tinha na minha justaposta, mas errei-a, estupefacto e maravilhado vejo-a graciosamente afastar-se de mim, mas do mal, o menos, tinha já uma no saco.
Levanta-se então outra aos cães que não deu paragem, apesar de estar a tiro decido não atirar pois não era digno de tão belo ser, especialmente numa mancha tão boa que me dava garantias de segurar os pássaros, a decisão foi recompensada, pois como eu imaginei ela estava no final da mancha na extrema do terreno, parada pelo Faruck de uma forma maravilhosa e firme a que se juntava a Zara num belo patron, cena já habitual, a novata patronar o mestre, a Galinhola parecia gostar do cenário e por nada queria deixar aquele ultimo reduto, um chaparro tirava-me do sério e disputava comigo o melhor lugar na primeira fila para a ver sair, roubava-me o ângulo ideal para fazer o tiro, decido então meter-me na cola do Faruck que imóvel deveria achar estranho tanta indecisão e movimentação minha para escolher o local ideal para atirar ao pássaro, ela teimava em não levantar, comportamento típico de uma Galinhola encurralada na extrema do terreno sabendo perfeitamente o que lhe estava destinado, ela levanta obrigada, pois tive de entrar emanação a dentro para a meter no ar, sai rápido, tão rápido como o meu primeiro tiro errado, um tiro demasiado estúpido que me meteu a tremer e que apesar de um segundo tiro certeiro e do cobro do cão teimava em continuar, o Carlos a ver tudo ria-se daquele tiro tão impetuoso, mas tudo acabara bem para mim e mal para a Dama, a segunda no saco e um sorriso de orelha a orelha que contrastava com a cara de azia do Jorge e do Mário que lutavam contra Galinholas blindadas, à prova de chumbo! Eu conheço a sensação, e também não gosto!
Eu e o Carlos vimos outra a pousar mas deixamos e indicamos aos 2 zerados e azarados do grupo onde ela tinha pousado, saiu ao Mário, mas mais uma vez a errou, a Benelli por pouco não ficou colada ao chaparro mais próximo, como que indicando que ali jazia a paciência de um Becadero, a aura daqueles 2 metia dó, o que faz um pássaro a um Homem.
Decidimos dividir o grupo, 2 iam ao encontro da esquiva do Mário, eu e o Carlos a uma das que deixamos ir.
Eu fiz agora a ponta direita o Carlos ia junto de mim, de repente ouve-se um beep beep, era o Faruck parado com ela num caminho virado para um pequeno barranco, eu em cima, ela no meio do barranco e o Faruck na estrada parado, estático, decidido, lindo e outra sem a mínima vontade de sair, o que fazer nesta ocasião? Decidi mais uma investir, levanta para cima do cão e faço o tiro e mais uma no saco, não estava em mim.
O outro grupo de 2 continuava a dar tiros mas a não cobrar nada, a “azia” do Jorge atacava em força, o Mário tinha escrito nos olhos a frustração da jornada, desfeita apenas por uma paragem da cadela e um abate fácil, os olhos brilhavam, um sorriso repentino instala-se e todos brincamos com ele, as coisas mudam instantaneamente.
Outra mancha e outro interveniente, o Jorge mata duas mas sem sofrer com uma delas que a atinge mas é cobrada ainda viva pela cadela do Carlos, a sorte de a termos visto pousar ditou o cobro, para mim restava-me deambular pelo campo treinando o cão com galinholas, pois já tinha as 3, e assim estava concluída a manhã, seguiu-se um almoço demasiado prolongado para um dia com tanto pássaro, apenas compreensível e aceitável pela boa disposição e intermináveis histórias de caçadas passadas, a tarde reservava-nos uma longa caminhada pois eu e o Carlos perdemo-nos e não fosse o guarda dar-nos uma boleia até ao carro a caminhada seria mais ao género pagão com muito sofrimento, pássaros de tarde nem velos mas fica um dia em que elas me queriam e onde mais uma vez o Faruck fez a diferença.

30-12-2007

Maravilhosa criatura.

Maravilhosa criatura é tudo o que me ressalta em mente para descrever tão belo ser, que me cativa a cada dia que passa, mesmo em dias duros e sem qualquer abate. Esta foi mais uma jornada longa e dura onde o Faruck esteve em grande destaque, apesar de conhecer já melhor este pinhal caçámos basicamente em zonas novas, desta vez ainda mais duras que o habitual! Zonas de grandes valas abruptas com tojo que me chagava ao peito, embora aberto por baixo tão ao jeito da Dama. Foi aí, numa crista do terreno que o Faruck pega num rasto, bailando entre espinhosos tojos esperando encontrar o seu par, não andaria longe, a sua cauda latejante, sinal claro da presença, indicava a proximidade, trabalho magnifico doa cão, mostrando a sua grande mestria, subitamente a Dama dá por findo o bailado e levanta, mal dando tempo de a ver, apenas o suficiente para descortinar o voou magnifico, era um pássaro grande, sabido e gracioso como sempre. A primeira não me tinha dado hipótese de fazer tiro, resguardada pela urografia do terreno foi ais forte! Tentei rebusca-la algures, mas onde? O terreno estava do lado da Dama e o tojo apertado em formação cerrada qual companhia romana bloqueava-me o caminho e obrigava-me a mudar o rumo. Era inevitável!
Uma pequena fatia de eucaliptal que cheirava a pássaro era agora palco para um segundo acto, o Rafael parado, o beeper tocava, acerquei-me do cão, não para usurpar o lance do Baguinho, mas sim porque ele é um pouco surdo e não consegue descortinar o local de onde vem o som e onde se encontra o cão, percebi que o Baguinho não estava perto, nem muito menos sabia onde estava o cão, sabia também da qualidade do Rafael nesta caça, e confiava também nele, mas desta vez o cão e a Dama esperaram tempo demais, quando cheguei junto do Rafael ela já o tinha enganado e tinha-se furtado, foi então que a vi sair aos cães na extrema dos eucaliptos, errada pelo Baguinho, mais uma que se tinha evaporado, era tempo de comer qualquer coisa pois num ápice tinham passado 5 horas de caça com apenas um abate para o Baguinho. Parecia que ela escutava os nossos planos para a tarde, enquanto discutíamos as manobras para essa tarde entre uma ou outra sandes. Perto esteve sempre uma ave, como um espião ouvindo os nossos planos rebuscados. Logo ali o Faruck pega num rasto e segue-o por mais de 80 metros, até, novamente numa extrema do terreno levantar, demasiado tapada uma Galinholas “toureira” que não me deu muito espaço para atirar apesar de ter feito um tiro que lamentavelmente errei, Galinholas já com escola, a darem muito trabalho a cães sabidos, a não darem paragem e a saírem sempre demasiado cobertas.
Pinheirinhos pequenos e muito querençudos era agora a volta e o local onde os cães e nós fomos novamente ludibriados, o Faruck pára 2 vezes e faz tocar o beeper, sem ela nunca dar tempo de me acercar para fazer o tiro, saiu sim ao Baguinho mas tão rápida que nem tempo deu para lhe atirar. Era o dia que o pássaro só queria ver o cão, eram apenas encontros a 2, 3 era demais.
Novamente de volta ao pequeno Eucaliptal e aos terrenos que o ladeiam, e aí estava ela, nem queria acreditar, a volta que nos tinha já feito dar e estava logo ali, tinha rodado e ido para a frente, para a outra mancha separada apenas pelo corta-fogo, saiu rápida e a tiro, mas errada e nunca mais encontrada. Era o dia do pássaro, não o meu! Ser caçador de Galinholas também é isto!

02-01-2008

Ano novo Galinhola nova.


Esta frase marca do dia, pois era a primeira jornada do novo ano, que eu esperava ser pelo menos tão bom cinegeticamente como o anterior, que tinha mesmo agora findado. Começámos eu e o Jorge numa zona de pinheiros, novos e bravos, aleatoriamente plantados pela mãe natureza, ladeados por novos eucaliptais com tojo e algumas estevas a comporem o quadro. Eu, dias antes a caçar aos Faisões tinha visto ali uma Galinhola, esta zona é pelos dois bem conhecida, entrámos na mancha, e pelo menos por minha parte com uma forte convicção de ver ali um pássaro, a tal já conhecida pelo menos. Fizemos toda a zona mais óbvia e aquela onde a tinha levantado dias antes e nada, tive um feeling que ela estaria num outro local, onde na época transacta com um Amigo o Frederico, tínhamos errado uma tão bem parada pelo cão. Decido investigar, o Faruck antecipa-se e ouço o beeper a tocar, o coração dispara a adrenalina sobe e rapidamente corro para o cão, mas pouco depois desmancha a mostra e segue rápido e decidido num rasto o que indicava que ela se tinha furtado e ia a pés, nestas ocasiões ele trabalha velozmente com a cauda em sintonia, como um radar é por ela me guio para saber o que se vai passar de seguida. Sabia que estava por ali não muito longe, a pés e a tentar ludibriar o cão, é então que vejo um coelho que se furta ao cão, e que estranhamente e quase como que penetra num teatro, sentou-se a não mais de 20 metros de mim, como que reivindicando um lugar na primeira fila para ver aquele espectáculo, deixei-o, não era orelhudos que procurava, além da época deles já ter fechado. Sempre de olho no cão, é então numa zona plana, pequena mas convidativa, ligeiramente abaixo de mim e à esquerda de onde me encontrava, que o impensável acontece, uma breve paragem saem perto do cão 2 Galinholas, que altas e fazendo qual aviões de guerra manobras evasivas me mostram a linda pintura no peito, a primeira passa rapidamente contornando e controlando as copas de uns eucaliptos, a segunda é abatida com um tiro rápido e de chofre a mais de 40 metros, o cão esteve simplesmente magnifico com uma paragem bonita e um trabalho de rasto que me deixou maravilhado, talvez o coelho tenha gostado também. Que lance pensava eu, enquanto me acalmava felicitando o cão e observando a ave. Um terreno lindíssimo fez deste um dos mais belos lances com Galinholas que já vivi e que jamais esquecerei!
Mudando de terrenos e de cão visitamos uma zona de pinhal velho e tojo, muito tojo onde um pássaro nos deu a volta por três vezes, andando demasiado à frente das cadelas e sempre levantando larga e fora de tiro, conhecem bem o terreno e são muito ariscas, com muita consciência do que lhes pode acontecer se derem paragem aos cães e saírem a nós.
De tarde a volta foi feita basicamente à procura da sobrevivente que me levantou pela manhã, parada uma vez pelo Faruck o beeper a tocar, tudo se repetia quase parecia um déja-vu, mas mais uma vez, fotocópia da manhã ela não quis esperar e saiu furtada ao cão, desta vez saiu ao Faruck e à Diana perto do Jorge que apenas a ouviu sair completamente tapada.
Esta foi uma jornada com apenas um abate mas repleta de lances magníficos que a transformam numa das melhores da época e que provam que a qualidade supera em muito a quantidade.

36-01-2008

Velha conhecida.


Mais uma manhã madrugadora, 6h ainda bem noite, pois, mas em ZCM há que estar lá cedo, não para marcar lugar, mas para fazer a inscrição, sortidas destas não me lembrava delas desde muito novo, onde era então companhia da minha saudosa avó, em filas intermináveis para comprar bacalhau, parece estranho, mas eu ainda sou do tempo que para se comer bacalhau era preciso ir para longas filas bem cedo e por vezes passar lá a noite. Nos dias que correm, filas destas são mais para os jovens, onde a febre por bilhetes de concertos rock ou à porta de uma qualquer grande superfície, esperando para comprar uma nova engenhoca nipónica ou um novo livro, pois é, mas esses não fogem, ao contrário da minha Dama, que me obriga a madrugar.
Depois das devias inscrições feitas, esperei um pouco, pois não gosto de caçar ás Galinholas mal raia o dia, esta ave distinta gosta de ficar alerta nas primeiras horas do dia, pois acaba de chegar da sua habitual e rotineira saída nocturna, fica algum tempo imóvel na zona onde pousa, deixando poucos rastos aos cães e tornando tudo ainda mais difícil. Sendo esta uma ZCM com alguns caçadores de Galinholas, não dá para esperar muito, corre-se o risco de chegarmos tarde à zona pretendida, e já lá estar alguém.
Conhecendo a zona perfeitamente, deixei o carro na clareira habitual, quase como uma rotina laboral, dá-me então aquela vontade de aliviar o peso interior, talvez fruto de um ar limpo e saudável e lá vou eu atrás de um arbusto que já me conhece na intimidade.
O cão, esse pelo cheiro sabe já onde está, sim sabe! Pois ali correu Km a fio, ali parou a sua primeira Galinhola, ali fez-se Becadero. O beeper na mão, as piruetas do cão, quase como que me apressando para lhe meter o colar e iniciarmos a jornada, calma digo eu como sempre, ele como sempre parece não ouvir. O vento sopra, fraco mas gélido, os dedos vão enregelando, o caminho não engana, é o de sempre. O cão aqui não precisa de ordens, nem sequer precisa de olhar para mim, o frio faz-me respirar mais fundo, o suficiente para ele me sentir, um ou outro torcaz levanta aqui e ali ao passar do cão, e a mancha principal aproxima-se. Lugar mítico de outros anos, vem-me à lembrança um ou outro lance, mas acima de tudo uma ave, uma única ave que foi sempre mais forte, que quinta em quinta feita tinha-mos encontro marcado, ela conhecia o cão, o cão conhecia-a a ela, eu conhecia bem os dois. Foram jornadas e jornadas de embates, sempre levando ela a melhor, o cão parava-a, ela sai-a sempre tapada, a zona era perfeita para albergar um destes pássaros, acabou a época e ela pelo menos nas minhas mãos não sucumbiu, Feliz por ela e agradecido, pois tinha-nos dado mais que alguma outra, sem saber ajudou a fazer do Faruck o que ele é hoje.
O Faruck conhecedor da mancha, foi direitinho à zona principal, mas nada, a sua cauda mostrava que ali ela não estava, cantinho a cantinho tudo bem batido mas nada mesmo.
Mudei então para uma zona mais adiante, onde na época anterior tinha visto duas e abatido uma, o cão vai direito ao local exacto onde na época anterior tinha parado uma que errei, eu sigo rapidamente, um pinheiro caído indica-me a certeza do local, perto deixo de ouvir o cão, instantes depois o beeepr toca, e tudo dispara, sinto o peito apertado, a boca a secar, aproximo-me do cão mas tenho de me baixar para ver onde ele estava, avisto-o virado para mim, ela deveria estar entre os dois, decido erradamente meter-me naquela que pensei ser a melhor posição naquele lance, colado ao cão, sinto-a sair, baixa, demasiado baixa sem se mostrar, complicada como sempre, imagem de marca que eu já conhecia da época anterior. Vasculho tudo em redor, sem sucesso tinha-se evaporado. Foi então que ouço 3 disparos, a angústia instala-se em mim, estranho é só um pássaro pensei eu, talvez a imagina-se minha e do cão, talvez 2 épocas e umas tantas paragens me dessem na minha cabeça direitos sobre ela. Mas não, um grupo de caçadores tinham-na abatido na mancha que fiz logo pela manhã, ela tinha afinal rodado e voltado para trás, não achei possível, pois não era uma distância normal de uma Galinhola.
Não vi mais nenhuma, a zona estava fraca, triste e com sentimento de luto regresso a casa, com a certeza que não era assim que ela queria e merecia morrer, com 3 tiros de caçadores que lhe fecharam completamente a fuga. Uma certeza levava comigo, que a recordaria certamente mais sem a abater, do que a recordará quem a abateu!

06-01-2008

Tão parecido.


Se me vendassem os olhos e só me retirassem a venda em pleno campo eu diria prontamente que estava em terras do Sado, mas não, longe disso, apesar das semelhanças serem do mais inacreditável, estava sim em terras alentejanas, terras de Mestre Baguinho, que conhece e domina há anos, a convite dele fiz todos aqueles Km sozinho, era com gosto que o fazia, apesar de não gostar de nunca gostar de viajar assim pela madrugada dentro sozinho, mas a Dama…
A ideia que me veio de imediato à cabeça e pela experiência que tinha em caçar em terras do Sado, era deixar o cão caçar da mesma forma, solto à maneira dele, à Pointer, deixa-lo procurar as baixas no terreno de sargaços. A zona apesar de muito característica estava fraca de pássaros, ou pela chuva, ou pela montaria da semana anterior, palmilhamos terreno sem fim, um sobe e desce desenfreado num terreno ligeiramente dobrado, a atenção no cão era crucial na esperança de o ver transformar a elegância da cabeça ao vento no funcional nariz no chão a seguir um rasto até dar com a Bela Dama, mas isso estava complicado só uma ou outra lebre mexiam com as emoções e faziam tocar os Beepers.
Era altura de caçar com a cabeça e pensar um pouco para tentar mudar o rumo das coisas, foi o que fiz! Decidi escolher terrenos mais altos e desta vez ironicamente mais secos, decido então ir pela crista do terreno quando vejo o cão mesmo no topo numa zona mais despida pegar num rasto desde o caminho até rapidamente ficar parado num pequeno aglomerado de mato, não tive duvidas era uma Galinhola, tento acercar-me rapidamente do cão mas ela não estava disposta a esperar e antes de eu chegar arranca, baixo pouco mais alto que o pequeno sargaço, faço um tiro certeiro mas muito largo e é cobrada prontamente pelo cão, a alegria do lance e do abate instala-se, aquela sensação inexplicável que poucos entendem acerca-se de mim, tinha valido a pena a penosa viagem solitária.
A partir daqui só de reter o enorme susto, quando o Faruck entra num mato serrado que mais parecia uma pocilga e de lá arranca uma enorme vara de Javardos qual batalhão de tanques fez estremecer o chão, a sensação foi aflitiva e arrepiante por ter o cão lá dentro, mas nem ele pensou duas vezes em dali sair rapidamente, não os vi mas deu para sentir que eram muitos e grandes, uma força e imponência notáveis destes animais, felizmente tudo correu bem, uma bela manhã de caça e mais um lance fantástico do cão que está em grande nível.