Este espaço visa dar a conhecer uma verdadeira Paixão, a caça às Galinholas com Cão de Parar, como também mostrar um pouco do nosso trabalho na criação do Setter Inglês, uma maravilhosa raça inevitavelmente ligada a esta nobre e enigmática ave que a muitos de nós encanta, a Bela Dama dos Bosques, a Galinhola.
terça-feira, 20 de outubro de 2015
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Açores, 9 dias de emoções
Há meia dúzia de meses atrás
recebi o convite do Amigo José Carlos Correia, Conimbricense radicado nos Açores
há mais de 30 anos, para ir fazer umas férias de caça nos Açores, convite
aceite, lá fui eu.
Se dão mais paragem é mentira! Se andam menos a pés, é mentira! Se saem mais a descoberto é mentira! Se vimos mais pássaros por jornada, é verdade! Tirando a densidade tudo o resto é igual ao Continente, uns locais mais fáceis que outros como em qualquer lado, o comportamento é o mesmo, astutas, esquivas, a saírem tapadas, e a caírem em silvados enormes onde o cobro do cão é determinante para o sucesso do lance!
Rumei a S. Miguel onde fui recebido pelo Zé e pela sua simpática e hospitaleira família, chegámos à hora
do jantar, esperava-nos uma canja de Pombo Torcaz e umas belas Galinholas
feitas à moda do Zé, nada melhor para começar senão com um belo repasto e um
ainda melhor serão, onde não faltaram as conversas de Galinholas e os lances
marcantes um pouco por todo o lado.
Na manhã seguinte embarcámos bem
cedo para o Pico, uma Ilha especial onde ia-mos fazer a abertura, depois de nos
instalarmos numa casa onde tínhamos defronte a magnifica vista do Faial e do
Porto da Horta, fomos esticar as pernas aos cães, rapidamente o Don pára a sua
primeira Galinholas insular, não tardando a serem os outros cães a fazer o
mesmo, estávamos radiantes pois não ouvíamos aquele “papapa” há muito, e
antevíamos uma abertura proveitosa!
Abertura no Pico:
Domingo, rumámos bem cedo em
direção a zonas mais altas, caçámos em cotas a rondar os 1100 metros, o dia
apresentava-se soalheiro e muito quente, temperaturas de 20°C humidade a rondar
os 90% àquela altitude, dificultavam muito a jornada, minimizava o esforço dos
cães o terreno muito molhado e muita água para beberem.
As Galinholas poderiam estar
em qualquer lugar, mas os Urzes endémicas a que lhe chamávamos “vassouras”, com
fetos secos eram um habitat preferencial! Pouco a pouco íamos tendo lances de
sonho, uns melhor aproveitados que outros, lá caíram as primeiras sempre após o
excelente trabalho dos cães! Caçámos também em bosques de Criptomérias, muito
do meu agrado e do mais belo que já cacei, quando elas encastelam o lance torna-se
mágico e indiscritível!
Ao final da manhã todos
tínhamos o cupo e muitos lances para contar, uns bem filmados outros
lamentavelmente não!
Nessa tarde rumámos de barco para
a Ilha de São Jorge, onde iríamos passar o resto da semana para fazermos a
abertura no domingo seguinte.
Em São Jorge tivemos uma
semana de caça e de pesca, de Garoupas a Sargos e Anchovas, aos Coelhos e aos
Pombos da Rocha, estes últimos proporcionaram-nos momentos inesquecíveis de
grande tiroteio, bem como belas canjas em jantares sempre bem regados!
Pelo que já tínhamos visto, os
terrenos eram muito distintos dos do Pico, muito mais fechados, com muitas
covas ladeadas de grandes silvados emaranhados nas típicas Hortências, onde o
material que tinha levado da Hart, seria fundamental, assim como os cartuchos
Especial Becada da Trust, muito úteis naqueles terrenos tão fechados, já que
iriam sair muitíssimo encobertas e complicadas de atirar, seriam tiros
instintivos e rápidos, muito a meu gosto!
Pois bem, a abertura em S.
Jorge foi dentro do esperado, um dia sem chuva e pouco nevoeiro, terrenos lindíssimos,
duros, onde apenas a paixão de um caçador de Galinholas nos faz andar para a
frente! Servir o cão em terrenos destes é uma façanha, aqui se separa o Caçador
apaixonado do matador!
O Don, o eleito para esta
aventura, como sempre não me deixou ficar mal, fez-me lances de sonho, momentos
únicos que jamais esquecerei, mostras fantásticas e intermináveis, onde recordo
o lance que, pela primeira vez vi a Galinhola no chão, imóvel entre mim e o
Don, correndo depois direita ao cão e, saindo na brecha mais improvável daquela
mancha! No final, os 3 tínhamos o cupo e muito para contar, muito para
recordar, jamais esquecerei estes terrenos, estas Galinholas 100% Portuguesas!
Sempre ouvi dizer que caçar às
Galinholas nos Açores não é igual ao Continente, que não tem o mesmo encanto,
que é mais fácil e não que tem a mesma piada, pois bem, agora tenho a minha
opinião, que contraria muito do que ouvi, e muito do que ouvi foi de caçadores
que nunca pisaram os Açores!
Os terrenos são duros, sempre
a subir, temperaturas altas comparativamente com as jornadas invernais no
Continente, altitudes elevadas, muita chuva, nevoeiro e humidade, terrenos
duríssimos de andar, as vacas sempre presentes em terrenos muito empapados,
fazem buracos que dificultam o caminhar a caçadores e cães! Nunca caí tantas
vezes por jornada, nunca me cortei tanto nas silvas, nunca saltei tantos muros
atrás das Galinholas! Nunca perdi tanto tempo para que os cães cobrassem as
Galinholas!
Se dão mais paragem é mentira! Se andam menos a pés, é mentira! Se saem mais a descoberto é mentira! Se vimos mais pássaros por jornada, é verdade! Tirando a densidade tudo o resto é igual ao Continente, uns locais mais fáceis que outros como em qualquer lado, o comportamento é o mesmo, astutas, esquivas, a saírem tapadas, e a caírem em silvados enormes onde o cobro do cão é determinante para o sucesso do lance!
Destes 9 dias, nestas 9 ilhas,
recordo a amizade verdadeira, os belos jantares feitos em casa e acompanhados
noite fora pelas sempre presentes histórias e piadas do Zé, as paisagens inigualáveis, de caçar a ver o Mar e as outras Ilhas do Grupo Central, recordo o
cheiro a hortelã, que fazia de tapete e emanava de forma mais intensa quando
pisada a cada passo que dávamos, as gentes do campo mas hospitaleiras, as
fajãs, lugares magníficos erguidos junto ao mar pela perseverança do Homem, de
acesso mais ou menos complicado em intrincadas e apertadas curvas, e acima de
tudo, recordo os lances dos cães, a magia e experiência do Don imposta em cada
lance e os seus cobros magníficos, os 5 minutos de uma mostra do Jeep da Pedra
Mua (Chopin) que ficou cravado numa Galinhola até o Zé finalmente o conseguir
servir e, depois de 2 disparos, a incerteza desfez-se num cobro magnifico do
cachorro!
Agora venham as do Continente
que estas, são passado!
Obrigado por tudo, Zé!
domingo, 4 de outubro de 2015
Do Mar para a Terra.
O tempo quente, ainda apela aos veraneantes mais tenazes, os dias de sol quentes estendem o Verão por mais uns tempos, atrasando assim as minhas idas ao campo de arma em punho! Os cães, através das refeições pontuais feitas agora ao lusco-fusco, vão-se apercebendo que algo está a mudar, que a
época deles está mais próxima, sinto-os já impacientes, nem as saídas
encurtadas pelo tórrido calor os faz ficar mais calmos!
Eu próprio começo a ficar
impaciente, vou dissipando a minha tensão com umas manhãs de Pesca Submarina, o
vento Leste que agora me trás Mar bom, há-de trazer-me em breve as minhas Damas
do frio, sou um fiel devoto do vento Leste, sou-lhe eternamente grato, tem em
mim talvez o maior dos devotos!
Em tempos, o mês de Agosto, era para mim
mágico, qual emigrante, fazia dele o meu objetivo do ano! Tinha 1 mês de Mar,
um mês que poderia desfrutar das minhas caçadas submarinas todos os dias da
semana, dava-me ao luxo de deixar o fim-de-semana para aqueles que não poderiam
ir ao Mar à semana, era muita gente dizia eu, eram muitos barcos, não me movia
como gostava, não poderia fazer as minhas jornadas nos meus locais de eleição
sem revelar os mesmos! Guardava-os com muito afinco, eram para mim reais
tesouros, agora, passados vários anos, fazendo uma retrospectiva, diria que se
fosse hoje, faria exatamente o mesmo, pois não era uma questão de egoísmo, na
realidade o Mar é de todos mas, aqueles buracos de robalos, as baixas dos Pargos,
as pedras das douradas, eram apenas meus! Cuidava dessas zonas, nunca as
destruí, sabia o que representavam para mim, assim nunca lá matei Bodiões, Peixe-Porco
ou peixes pequenos, eram zonas que tentava deixar o mais intactas possível,
algo que nunca aconteceria se lá levasse alguém! "Limpavam" os
enormes Bodiões, faziam uma razia em tudo o que mexe-se e destruíam aquilo que
eu tanto preservava, nunca fui Pescador Submarino (termo moderno, sempre me
considerei um Caçador, pois tem mais técnica e arte, assemelha-se mais em tudo
ao caçador que, ao pescador!) de quantidade, sempre procurei os troféus, as Douradas
(meu peixe de eleição), os Pargos e Robalos Grandes, Meros, as Saimas e
Corvinas em detrimento das caixas de Sargos, sacadas de Polvos ou marisco,
pescava "caçava" com paixão, movia-me a vontade de capturar aquele
troféu, de enganar um Pargo, de ouvir o carreto cantar, de ir pelo caminho mais
longo e difícil e acima de tudo emocionante!
Pois bem, foi por tudo isto que me
apaixonei pelas Galinholas, se não fossem elas já não era seguramente caçador!
Não sou caçador de muitos tiros e molhadas, fui uma vez aos tordos e não fiquei
fã, aos pombos nunca fui, os javardos tiveram mais perto de me matarem que o
contrário, as perdizes são quase sempre um embuste, os cães esses, não se
deixam enganar tão facilmente como alguns caçadores! As codornizes, as bravas,
são tão poucas que quando um caçador sério, verdadeiro faz o cupo, tudo é posto
em causa, a dúvida está legitimamente anilhada a cada pássaro, a farinha esse
bem precioso, rebenta e mancha uma manhã verdadeira e bem soada, por uns pagam
os outros!
São as Galinholas, as mais verdadeiras que me fazem caçador, que me
despertam os sentidos, que me consomem as energias e mas repõem em triplicado!
Uma vez mais escolhi o caminho e a disciplina mais difícil, aqui não se fazem
molhadas, somos obrigados a pensar, a ponderar, a decidir, isto é caçar, a
estratégia, contamos apenas com o nosso instinto, conhecimento e astucia, e acima
de tudo com o companheiro de 4 patas, com a suas qualidades e perícia, é um
jogo de equipa, confiamos no cão e ele em nós, aprendemos com o tempo a ler o
seu movimento, antecipamos o que vai acontecer, decidimos, umas vezes bem
outras mal, e começamos de novo! Sofremos, sim sofremos, 6 Kg a menos ao final
de uma época de Galinholas, é porque sofremos, lascamos botas, rompemos safões
e calças, caímos vezes sem conta, perdemos constantemente os chapéus, cortamo-nos e arranhamo-nos, é duro, é Caçar Galinholas e é tão bom!
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