Eu próprio começo a ficar
impaciente, vou dissipando a minha tensão com umas manhãs de Pesca Submarina, o
vento Leste que agora me trás Mar bom, há-de trazer-me em breve as minhas Damas
do frio, sou um fiel devoto do vento Leste, sou-lhe eternamente grato, tem em
mim talvez o maior dos devotos!
Em tempos, o mês de Agosto, era para mim
mágico, qual emigrante, fazia dele o meu objetivo do ano! Tinha 1 mês de Mar,
um mês que poderia desfrutar das minhas caçadas submarinas todos os dias da
semana, dava-me ao luxo de deixar o fim-de-semana para aqueles que não poderiam
ir ao Mar à semana, era muita gente dizia eu, eram muitos barcos, não me movia
como gostava, não poderia fazer as minhas jornadas nos meus locais de eleição
sem revelar os mesmos! Guardava-os com muito afinco, eram para mim reais
tesouros, agora, passados vários anos, fazendo uma retrospectiva, diria que se
fosse hoje, faria exatamente o mesmo, pois não era uma questão de egoísmo, na
realidade o Mar é de todos mas, aqueles buracos de robalos, as baixas dos Pargos,
as pedras das douradas, eram apenas meus! Cuidava dessas zonas, nunca as
destruí, sabia o que representavam para mim, assim nunca lá matei Bodiões, Peixe-Porco
ou peixes pequenos, eram zonas que tentava deixar o mais intactas possível,
algo que nunca aconteceria se lá levasse alguém! "Limpavam" os
enormes Bodiões, faziam uma razia em tudo o que mexe-se e destruíam aquilo que
eu tanto preservava, nunca fui Pescador Submarino (termo moderno, sempre me
considerei um Caçador, pois tem mais técnica e arte, assemelha-se mais em tudo
ao caçador que, ao pescador!) de quantidade, sempre procurei os troféus, as Douradas
(meu peixe de eleição), os Pargos e Robalos Grandes, Meros, as Saimas e
Corvinas em detrimento das caixas de Sargos, sacadas de Polvos ou marisco,
pescava "caçava" com paixão, movia-me a vontade de capturar aquele
troféu, de enganar um Pargo, de ouvir o carreto cantar, de ir pelo caminho mais
longo e difícil e acima de tudo emocionante!
Pois bem, foi por tudo isto que me
apaixonei pelas Galinholas, se não fossem elas já não era seguramente caçador!
Não sou caçador de muitos tiros e molhadas, fui uma vez aos tordos e não fiquei
fã, aos pombos nunca fui, os javardos tiveram mais perto de me matarem que o
contrário, as perdizes são quase sempre um embuste, os cães esses, não se
deixam enganar tão facilmente como alguns caçadores! As codornizes, as bravas,
são tão poucas que quando um caçador sério, verdadeiro faz o cupo, tudo é posto
em causa, a dúvida está legitimamente anilhada a cada pássaro, a farinha esse
bem precioso, rebenta e mancha uma manhã verdadeira e bem soada, por uns pagam
os outros!
São as Galinholas, as mais verdadeiras que me fazem caçador, que me
despertam os sentidos, que me consomem as energias e mas repõem em triplicado!
Uma vez mais escolhi o caminho e a disciplina mais difícil, aqui não se fazem
molhadas, somos obrigados a pensar, a ponderar, a decidir, isto é caçar, a
estratégia, contamos apenas com o nosso instinto, conhecimento e astucia, e acima
de tudo com o companheiro de 4 patas, com a suas qualidades e perícia, é um
jogo de equipa, confiamos no cão e ele em nós, aprendemos com o tempo a ler o
seu movimento, antecipamos o que vai acontecer, decidimos, umas vezes bem
outras mal, e começamos de novo! Sofremos, sim sofremos, 6 Kg a menos ao final
de uma época de Galinholas, é porque sofremos, lascamos botas, rompemos safões
e calças, caímos vezes sem conta, perdemos constantemente os chapéus, cortamo-nos e arranhamo-nos, é duro, é Caçar Galinholas e é tão bom!