Ainda escuro, lusco-fusco na
hora delas passarem, ao fazer a última curva vislumbro as luzes da aldeia que
em silêncio indica-me que a viagem chegou ao fim, sinto um frio na barriga são
as expectativas a aflorar, os pensamentos em breve serão uma realidade, entro na
estrada de terra batida, os cães despertam, o silêncio dá lugar à impaciência e
fazem-se sentir! A lua enorme, redonda lá no alto, ilumina os últimos metros do
caminho, uma lebre corre uma centena de metros alheia ao perigo. Paro o carro
no lugar de sempre, os melros anunciam a manhã, 5 graus, sinto o frio nas mãos
e a liberdade no corpo! Sem hora para começar e muito menos para terminar, o relógio pára, sou
dono do meu tempo, sem patrões, sem e-mails, sem chamadas, sem colegas, apenas
os companheiros de 4 patas que apenas demonstram tanta ou mais paixão pelas
Galinholas que eu, olho para eles com a mesma certeza de qualquer outro caçador de
Galinholas, são os melhores cães do mundo! Penso isto não com um narcisismo estúpido,
mas com a convicção cega de um verdadeiro apaixonado por esta caça e pelos seus cães!
Preparo-me e solto a Shiva,
saltitante de alegria por ter a mesma sensação de liberdade que eu, estava ali
para fazer aquilo para que nasceu e ainda bem que nasceu. A primeira Galinhola é encontrada a muitos
km do carro, uma das repetentes que 15 dias depois se apresentava exatamente no mesmo local, a Shiva para-a e faz o mesmo de sempre, guias e
mostras, eu preparava-me para saltar o arame, pois a Shiva bloqueava-a sempre
no mesmo local do outro lado do arame, no entanto desta vez ela deu em não
passar o arame, sigo a guia da cadela, pouco depois aí está ela no ar, abatida
facilmente!
Era tempo de voltar para o
carro, ainda faltava ver uma zona lá perto, a Shiva num local conhecido e de
grande crença, entra em mostra, a Galinhola sai muito rapidamente e larga,
abato-a já larguíssima ao primeiro tiro, “benditos cartuchos Trust”, quando
mando cobrar sai outra, outra que, ainda foi parada e vi-a graciosa cruzar as estevas,
linda exclamei, depois evaporou-se!
Era tempo de ver de outra
errada 15 dias antes, no entanto e pelo caminho uma mais que apesar de bem
trabalhada pela cadela não me consegui colocar a tempo e lá foi ela!
A nossa Amiga estava no mesmo
vale e exatamente nos mesmos paus, uma zona sem árvores mas muito húmida, com
este tempo a humidade é mesmo a única coisa que segurava ali uma Galinhola, desta vez saiu
para o lado oposto ao da última vez, terreno limpo, deixei-a alargar e abati-a
ao primeiro tiro, aí estava o primeiro cupo desta época para a Shiva!
São estes momentos que nos
fazem esquecer a realidade, parar o relógio e viver intensamente os momentos,
desta vez proporcionados por uma cadela especial, a Shiva!