sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Diário de um Becadero, 2008/09 (parte 1)


Perspectivas.

Pela primeira vez este Outono acendi a lareira, automaticamente acercaram-se de mim pensamentos que guardava forçosamente adormecidos. O vento frio, esperado e aliado amigo que me trará a minha Dama para mais uma época, já sopra do lado certo!
Não só o frio que já se faz sentir, mas um ou outro relato de um pássaro visto aqui e ali, por um caçador de coelhos, ou um levante repentino numa montaria são o suficiente para se apoderar de mim aquele nervoso miudinho tão saboroso. Os telefonemas seguem-se, os amigos becaderos também eles atentos a todos os acontecimentos vão passando a informação, a net é agora nossa aliada, sites de meteorologia são agora seguidos diariamente, o tempo que faz na Rússia é mais conhecido por nós do que o tempo que faz lá fora na rua neste momento. É tempo de definir jornadas, de ajustar datas e horários, de inspeccionar as armas, trocar pilhas aos Beepers e ajeitar chocalhos.
Esta época, não sei o que esperar!? Ainda não me apercebi das minhas reais expectativas, sabendo que não será uma época fácil, as zonas e a maioria das jornadas estão marcadas, os cães estão bem. Este ano tenho uma cadela nova, a Uva, uma Pointer grande especialista em Galinholas, uma cadela que comprei por estas mesmas características, pois fazia-me falta um outro bom cão de Bicudas, estava demasiado “Faruckodependente” jornada que não o levasse, sentia que tinha deixado em casa algo tão necessário como a arma, o que fez com que caçasse com ele demasiado e também com que desse poucas oportunidades ao Frick, o mais novo. Penso ser algo natural quando se tem um cão melhor e mais experiente que outro.
Os telefonemas vão surgindo, o Baguinho anda já a mexer bem os cães, também ele se depara com o mesmo problema que eu, um cão excelente de Galinholas o Rafael e, outro mais novo que vai ficando em segundo plano.
O Jorge, ligou-me outro dia, andava no campo com os cães, sem arma, de fundo ouvia os chocalhos, aquele som mexe realmente comigo! Anda a mexer cães novos, pois a morte inesperada do Uster, deixou-nos desolados e a ele descalço, sem o seu cão de Galinholas, ele á semelhança de mim e do Baguinho, também era dependente de um cão. Agora é tempo de procurar soluções, de fazer um novo cão á sua altura, não será tarefa fácil, mas nas mãos dele outra “máquina” surgirá, como que vinda do além.
Alguns terrenos foram remexidos, algo que as Galinholas não costumam tolerar, alguns bons terrenos que fiz na passada época jornadas de sonho estavam agora alterados, outros, fui pessoalmente assegurar-me da sua pureza, felizmente que estão imaculados.
A época da Bela Dama curiosamente abriu no meu dia de anos, embora seja apenas o dia 16 o escolhido para a nossa abertura, marcada já com a devida antecedência, pois antes de dia 15 não nos fazemos ao campo, só, se por algum motivo elas se apresentarem em força antes disso.
Desta vez não quero falar em números, apenas espero lances tipicamente belos, capazes de me fazerem passa-los para o papel de uma forma digna, de me tirarem o sono e por muito tempo me fazerem sonhar com eles.
Confesso estar expectante, tenho mais uma cadela forte no pássaro, os terrenos os mesmos mas agora conhecidos, os amigos e companheiros de caça, esses, bem, mudam os cães, mudam as armas, muda muita coisa, mas esses são os de sempre, uns mais preparados, outros desfalcados, mas todos com um sentimento comum, a paixão avassaladora pelo pássaro.
Neste preciso momento ninguém se atreve a dizer, se será um bom ano, os tordos já aí andam em força, as narcejas e marrequinhas também já se apresentaram, uma ou outra galinhola mais apressada também já se mostrou, mas ainda assim não é suficiente para cada um de nós opinar e precocemente projectar toda uma época. Certamente que no intimo de cada um, paira essa duvida, ou em alguns mais velhos e experientes já uma meia certeza, no meu caso apenas uma pura e saudável expectativa, de que pelo menos me vou divertir com os cães!

Dama a quanto obrigas!

Não sei o que me deu, uma jornada marcada á geral e acabei por não ir, dando prioridade a sair para o campo sem arma e com a cadela, pois neste momento acho mais importante estas saídas ao campo, mesmo sem arma, do que uma ou outra perdiz abatida!
A volta até foi rápida mas importante e necessária, pois a Uva não caça de Beeper, algo que sinceramente não creio ser importante, dada a sua forma de caçar, pois é uma cadela extremamente ligada, como não tive outro cão assim! Movimenta-se muito bem em terrenos fechados, aliás é aqui que ela é boa, pois caçou muito neste tipo de terrenos, tojo e estevas não são problema, é contida de andamentos mas muito enérgica, de bom nariz e paragem firme, com uma característica muito própria, rápida a resolver quando em contacto com a caça, não engonha se tiver uma galinhola no nariz, rapidamente resolve e completa o lance com uma paragem muito bonita, a experiencia deu-lhe esta capacidade de autoconfiança necessária para bloquear o pássaro de uma forma rápida sem medo e acima de tudo eficaz.
Tenho muita fé nela, nunca me parou ainda uma Galinhola desde que a tenho, mas parou ao Jorge 5 na época passada e no curto espaço de tempo que caçou com ele, algumas comigo presente, apenas perdizes bravas e codornizes parou já nas minhas mãos.
Resolvi sair com ela neste domingo pela manhã, num local que domino bem, talvez até tivesse a esperança que lá estivesse um primeiro pássaro, não levava arma, mas levava a cadela e era tudo o que precisava para me divertir. A cada passo que dava observava em silencio o terreno, e despoletavam em mim memórias de outros anos, de outros lances naqueles terrenos, o chocalho na cadela fazia a banda sonora adequada aquela projecção de belas imagens que só eu poderia ver. Um pinheiro conhecido onde tive um dos mais belos lances, o montinho nos eucaliptos onde errei uma, o alto onde tive o mais belo lance de sempre, todos estavam lá, imaculados como que peças de um xadrez expectantes pelo outro jogador para dar inicio ao jogo.
A noticia da primeira abatida por um membro do grupo fez mexer com todos nós, uma simples mensagem de telemóvel com uma foto e sem uma única palavra, tinha dado azo a uma manhã agarrado ao telemóvel, primeiro com o protagonista que teve sem ser necessário pedir de contar detalhadamente o lance, depois com o restante do grupo, inevitavelmente este pássaro tinha mexido com todos nós, as projecções qual Zandinga vieram á tona, todos nos abrimos e deitamos cá para fora o que há bem pouco tempo não tínhamos a ousadia de dizer, “já estão cá, vieram mais cedo” foi o que mais se ouviu, mudou-se obrigatoriamente as datas de inicio da época, de 16, passou rapidamente para 9, as perdizes era já algo do passado!
Baguinho sem hesitação mudou a data e, ao seu género disse a frase do dia, “este ano o Jorge começou a descongela-las mais cedo!” um riso característico ouvia-se do outro lado, o Carlos esse engolia em seco assim como eu, pois tinha-mos gozado durante muito tempo com o Jorge por ele não ter um “CÃO de Galinholas” á sua altura, massacramos bastante e, ele já nos levava avanço, sinceramente era esperado! Felizmente não invejamos o avanço nem o que dizemos é com qualquer tipo de maldade, apenas faz parte do convívio entre amigos!
Vamos ver o que esta época nos reserva…


Mais paixão que convicção.
09/11/2008

Finalmente o tão esperado dia da abertura às Galinholas chegou, depois de uma noite mal dormida. A noite tinha sido demasiado longa, o pássaro ainda tem esta capacidade, de me fazer perder o sono qual miúdo pequeno com a ansiedade típica de uma véspera de Natal.
A hora combinada entre mim e o Baguinho era ás 7h no local do costume, infelizmente já lá estavam 2 caçadores de coelhos, conversando entre si enquanto eu me ia preparando e, ao mesmo tempo esperava pelo companheiro, atrasado devido ao nevoeiro. Entre um ou outro ladrar de um podengo ouvi algo que me animou bastante, “sabes na quinta feira um rapaz errou aí uma Galinhola” era tudo o que eu queria ouvir, a mensagem foi passada logo por telemóvel ao Baguinho, talvez isso o apressa-se mais um pouco, mais um carro com 2 Coelheiros começava a tirar-me do sério, era apenas aquela ansiedade típica de abertura a falar mais alto.
A manhã estava linda e convidativa a uma jornada ao pássaro, tivemos por bastante tempo a companhia agradável do nevoeiro, que dava uma cor cinzenta e sinistra ao pinhal.
Começamos a jornada pelo local de sempre, Baguinho à esquerda e eu à direita, tudo voltava de novo, os cães do companheiro Rafael com Beeper e chocalho e Duke só de chocalho, o meu como sempre sem Chocalho mas com o Beeper, assim começamos a bater terreno todo ele muito duro, plainas e safão ali fazem sempre parte da indumentária, o tojo a isso obriga, imagine-se os cães limpos de acessórios, vestidos apenas com o que vieram ao mundo, dureza pura, ali a paixão suplementa a dor!
Pouco depois ouço um “olhaaa”, que se escapara levemente da boca do Baguinho, indicando a ele próprio a certeza de um primeiro pássaro. Virei-me e vi uma imagem unica, no meio do nevoeiro vejo um vulto, uma silhueta de uma Galinhola a voar á frente do Duke que vinha a fazer o rasto dela, pouco depois vejo-a cair, aí estava a primeira da época vista e a primeira da época abatida pelo Baguinho, cobrada pelo Faruck a pedido do Companheiro, pois os cães não estavam a dar com ela, seguiu-se um aperto de mão característico selando dignamente o lance e, a observação detalhada da ave, pequena, de média idade e bastante magra, normal em Galinholas de entrada que acabaram de fazer 4.000 ou 5.000 km.
A jornada seguia, esta galinhola ao abrir do pano deu-nos alento e expectativas, pois poderiam estar lá mais uma ou outra.
A jornada de igual apenas tinha a dureza do terreno, duríssimo a cada passo que dávamos. Mais á frente vejo o Faruck a fazer um rasto muito compenetrado, aquela cauda a dar daquela maneira fazia-me lembrar algo conhecido, acerco-me e ele fica parado, o Beeper toca, os corações despertam, mas nada, o que ali estava já tinha saído, talvez um coelho quem sabe.
Um ou outro mato mais alto em terrenos todos eles muito iguais aguça-me a imaginação, o cão esse sabe bem o que estes matos significam e sem o mandar entra e passa tudo qual aspirador a pente fino, limpa todos os cantos com aquele nariz potente, mas nada, é demasiado cedo, apenas a paixão de caçar alimentada por abates e vislumbres de companheiros nos últimos dias antecederam a abertura.
As horas iam passando, eu qual cego, perdido naquele pinhal envolto em nevoeiro, apenas guiado por Baguinho que, qual guia turístico dava-me a historia detalhada do local a cada mancha que fazia-mos, “este é o local do salto de peixe” “este o daquela errada”, “aqui foi onde lhe levantaram as duas”, para nós ali não há nomes próprios, cada local tem a sua historia e um pormenor mais significativo de uma ou outra jornada dá-lhe o nome de baptismo.
Depois já perto do carro, vejo o Faruck fazer um rasto, o Baguinho vê o memo que eu, o Beeper toca, corremos os 2, depois impróprio para cardíacos, sai um melro, olhamos um para o outro e sorrimos.
Era hora de ir embora, os cães após 6 horas em terrenos daqueles estavam exaustos e doridos, apenas um pássaro abatido pelo companheiro, merecidamente, pois “era dele” aquele pinhal e, para lá estar apenas uma ave, é justo que seja ele a abate-la, outros dias com mais pássaro chegarão, para primeira jornada tão precoce até nem foi mau.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Beeper, como e porquê?

Muitas são as vezes que nos deparamos com as dificuldades dos nossos cães em caçarem com o beeper, não andarem e refugiarem-se nas nossas pernas, desfazerem a paragem quando o beeper toca e, deslizarem á ordem do beeper a cada toque deste são problemas comuns no inicio da utilização do beeper pelo cão.
Resolver estes problemas e ultrapassa-los nem sempre é uma tarefa fácil, muitas vezes o carácter de um cão dita o sucesso ou o insucesso ou a maior ou menor dificuldade em consegui-lo.
A primeira vez que um cão sai para caçar com o beeper pode estranha-lo, comuns são as vezes de um cão nem liga á coleira que agora transporta ao pescoço, porque tem um carácter forte e descontraído e não lhe faz a mínima diferença caçar com ela, embora muitas vezes as primeiras paragens com beeper em determinados cães sejam complicadas, a grande maioria de inicio tem a tendência de desmanchar a paragem, deslizar ao som de cada beep, ou mexer a cabeça. Outros exemplares mais desconfiados ou sensíveis de carácter sentem-se incomodados e recusam-se a caçar com o beeper e, não nos saem das pernas. O que fazer nestes casos, como se deve iniciar um cão a caçar com o Beeper, para que não nos deixe ficar mal a quando dum belo lance com Galinholas, há truques e dicas, pequenos segredos que possamos utilizar para meter o nosso cão a caçar com o Beeper?
No inicio da utilização deste pequeno acessório o cão pode-se deparar com uma incógnita e fazer uma associação errada, alguns cães que são treinados com o colar eléctrico e, que por má utilização do mesmo rejeitam caçar de colar, mas caçam normalmente sem este, por vezes e dadas as semelhanças físicas do Beeper e do Colar, os cães ao senti-lo ao pescoço automaticamente sentem o beeper como sendo um colar e, assumem a mesma postura de medo, refugiando-se e não andando.
Neste caso não passa de uma associação errada por parte do cão, que dará mais trabalho a resolver, teremos de tentar incentivar o cão a andar com o beeper, tentamos mete-lo em zonas com muita caça, coelhos e perdizes, para que desperte os seus instintos e para que abra e perceba que aquilo não é um colar, embora por mais tentativas que façamos muitas vezes o trauma é grande e não tem solução, é então nessas ocasiões que recorremos a caçar apenas de chocalho, optando por não martirizar mais o animal.
Animais um pouco menos sensíveis, que apenas reduzem o andamento ao sentir o colar, que o consentem apenas apresentando um ligeiro desconforto e desconfiança, a receita é a mesma, muita caça até que o cão se habitue e não ligue ao que transporta consigo. É então altura de ele trabalhar com o colar, por norma não fazemos a estreia do nosso cão com beeper em jornadas de Galinholas, este é um trabalho que habitualmente é feito fora de época, em treinos periódicos com o nosso cão, a preparação antecipada do nosso cão e o limar de arestas não deve ser feita em pelo acto de caça, para não perdermos lances bonitos, é algo que nos ajuda na altura de defeso a suportar a longa e necessária paragem, deixando-nos na mesma ligados ao cão e á ave, preparando tudo criteriosamente de maneira a nos apresentarmos a ela na melhor forma possível.
O que fazer então, como habituar o nosso cão a suportar o som do beeper durante a paragem?
Por norma teremos de fazer uns treinos com caça e abate, uma encenação real do que será o futuro, o faisão por ser uma espécie que habitualmente dá muita paragem aos cães, é a espécie escolhida, embora perdizes sejam também possíveis de utilizar. O primeiro passo é começarmos com jornadas sem caça ou pelo menos sem abate, onde é colocado o beeper ao cão em modo de “chocalho” ou seja, programamos o nosso beeper de forma a este tocar 5 em 5 segundos, desta maneira o cão mesmo em andamento e por intervalos periódicos de 5 segundos ouve o beeper, assim vai-se habituando ao som que acabará aos poucos por lhe ser familiar. Utilizando este método o cão mesmo quando fica parado já há muito que estava a ouvir o som do beeper, o que lhe dará uma outra tranquilidade quando trabalha a emanação e pára o faisão, pode na mesma sentir-se desconfortável nesta nova situação, pois em mostra o beeper toca 2 em 2 segundos. É aqui que entramos nós! Podemos e devemos então acalmar o nosso cão, a situação é por vezes idêntica ás primeiras paragens de um cachorro, o som do beeper, dá-lhe impulsos de entrar á caça, é hora de o segurar, á voz, com umas festas no dorso, ou até mesmo em casos que a isso careça, atrela-lo.
A partir daqui o cimentar dos conhecimentos estão directamente ligados a uma palavra que está implícita em qualquer treino de um cão de Parar, experiencia. Os muitos e variados lances vão fazer com que o cão se habitue a caçar com este magnifico e útil acessório, ao ponto de o ignorar ou até em muitos casos também o cão o utilizar e ser-lhe também a ele cão um instrumento útil na sua jornada.
Pode parecer estranho e desadequado dizer-se que um cão utiliza e faz-se valer de um aparelho electrónico na caça. Mas, é de todo verdade! Muitos cães sabem como utilizar este aparelho, sabem que é este aparelho que o liga á arma em terrenos fechados, sabem esperar pelo caçador sempre com o beeper a tocar, ao ponto de apenas deslizarem quando sentem a arma perto.
Muitos são os casos de cães ficarem em Patron apenas por ouvirem o beeper, saberem o significado do cantar do beeper, bem como em outros casos e estes mais chatos, cães pendurarem-se no beeper e, quando o ouvem correm qual atirador ao seu som e muitas vezes para se pendurarem no trabalho de outro cão. Outro exemplo é um cão que conheço, que se alarga bastante e por vezes desliga-se completamente do caçador, mas imobiliza-se propositadamente até o beeper tocar para que o seu dono o encontre, depois de o ver volta a caçar.
São todos estes pormenores que nos apaixonam pelo complexo mundo dos cães.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Tempo de migração.

Nesta altura do ano é já tempo de nós caçadores falarmos uns com os outros a fim de sabermos das perspectivas de cada um para a época que se avizinha. Será boa, será má, criaram bem, vêm cedo, vêm tarde? Estas e outras questões invadem a mente de um Becadero.
É habitual ouvir-se, “este é um ano de chuva vai haver pássaros” mas nada mais longe da verdade! Aquilo que se julga vulgarmente, que um terreno húmido com uma boa manta morta é propicio para chamar mais aves, mas não é assim, a nossa meteorologia interna nada significa na migração e no instinto migratório da Galinhola, pois ela sai com o intuito de fugir ao frio extremo que se faz sentir nas suas zonas de nidificação, as Galinholas iniciam as suas migrações sem saberem as condições que vão encontrar nos locais finais onde vão passar o Inverno a milhares de Km de onde iniciam a viagem, partem com uma rota defenida, mas que pode por vários factores entre eles as direcções e intensidades dos ventos ser alteradas. Portanto o que leva a serem bons anos de Galinholas não é mais que a sorte das condições no momento das viagens se proporcionarem de forma a empurrarem-nas para cá e, ter sido um ano favorável de procriação, as condições dentro do país, apenas leva a uma maior ou menor distribuição interna, pois é comum haverem depois de chegadas cá, migrações internas onde se distribuem pelos locais de crença.
Sem qualquer estudo cientifico que assegure e comprove esta ideia formada, podemos dizer pela experiencia de muitos caçadores especialistas que, as Galinholas, gostam mais de fazer as suas deslocações migratórias nas noites de lua cheia, é comum dizer-se que a lua Nova em Novembro bem como as 2 noites que antecedem a lua Nova até ás 2 noites depois, são propicias para alas viajarem, desde que coincida com o final do mês.
Talvez a notória influência da Lua nas mudanças do tempo seja também ela preponderante no clique necessário para a Galinhola se fazer ao caminho.
Muitas são as vozes que acham que as noites escuras sem lua, ou demasiado escuras pelo mau tempo, não favorecem as deslocações destas aves, é aí que se sabe morrerem muitas Galinholas, nas suas necessárias migrações anuais, os postes de alta tenção, as Torres e edifícios altos, redes e construções humanas podem tornar-se pouco visíveis e fatais para a ave, por vezes são avistadas aves aparentemente esgotadas em parques urbanos de grandes cidades, talvez guiadas para lá pela luz nocturna típica e visível a quilómetros.
As aves começam as sua migrações desde meados de Setembro, as aves nascidas na Rússia não ficam lá a passar o Inverno rigoroso que se faz sentir, optando por se deslocarem para zonas ainda que frias mas mais amenas, propicias a albergarem tão belo ser.
Durante o mês de Outubro a Finlândia e os países bálticos começam as ondas de frio que despertam os impulsos migratórios das aves provocando abandonos em massa da região, consoante os ventos as aves vão-se dispersando desde a França, Itália, Croácia, Espanha, Portugal, Marrocos e Ilhas Italianas, Espanholas e Portuguesas entre outras, a dispersão das aves tem muito a ver com as condições climatéricas encontradas na altura da viagem, os ventos favoráveis de norte, nordeste são os mais apreciados pelos Portugueses, pois são os que nos trazem maior numero de aves.

Em verde ou laranja?

Uma indecisão que para muitos não se coloca, especialmente ao tradicional caçador adepto do camuflado, alguns trajes a cheirar ainda a África, velhinhos ainda do tempo do Ultramar repletos de histórias e de outras batalhas que não com perdizes, mas será este tipo de vestuário, o mais indicado na caça de salto e em especial na caça ás Galinholas?
É talvez aqui que esta caça tão envolta em misticismos se desvincula da tradição e da etiqueta ancestral que a caracteriza, não por uma evolução lógica, mas sim por um cuidado e preocupação com um aspecto muito importante, a segurança, o caçador de Galinholas sabe melhor que ninguém da importância destes trajes com cor, com o tempo e muitas vezes com os sustos aprendeu a lição e, é agora tempo de uma nova moda que vai muito além da vaidade e das tendências do momento, é tempo de segurança e eficiência.
É certo e sabido que os terrenos característicos de Galinholas são propícios a acidentes, as vegetações altas e fechadas de estevas e outros arbustos nascidos e
m pinhais homogéneos e compactos, ou eucaliptais com coberto de mato serrado potenciam acidentes. A roupa camuflada ou até os verdes sóbrios são de facto muito comuns até em muitos caçadores de Galinholas, mas sem a menor dúvida devem ser evitados. Nos tempos que correm há cada vez mais, uma maior consciencialização por parte dos caçadores dos perigos inerentes a este desporto, se uma arma é algo deveras perigoso, uma arma de Galinholas e os típicos cartuchos são ainda mais, a maior dispersão do chumbo em canos e cartuchos especiais são um perigo real, aliado a isto uma vegetação fechada e um caçador que se evapora no ambiente são factores mais que suficientes para um acidente.
É importante neste tipo de terrenos sermos vistos e vermos o companheiro ou alguém que por ali ande, para sermos vistos cabe a nós proporcionarmos isso aos outros, como? Vestindo-nos com roupa de cores contrastantes com o ambiente que nos rodeia, o laranja é o mais comum. Um simples colete e um chapéu laranja são o suficiente para evitarmos um acidente perigosíssimo, hoje em dia e com o aumento das novidades e produtos pensados e desenhados para colmatar determinadas lacunas e preencher certos requisitos, fundamentaram muitas e novas descobertas e invenções por parte dos fabricantes de artigos de caça, existem agora no mercado acessórios de extrema utilidade, falo dos inúmeros óculos de protecção disponíveis actualmente no mercado, bem como da diversa roupa de cor laranja que neste momento podemos adquirir a preços acessíveis e de elevada durabilidade. Variadíssimos modelos e padrões mais ou menos do nosso agrado estão á venda em qualquer boa espingardaria, um colete e um chapéu laranjas são mais que suficientes para indicarem a nossa presença na maior parte dos cenários onde actuamos, são também um descanso para o nosso companheiro que rapidamente nos visualiza num terreno todo ele igual e consegue assim fazer mais descansado um tiro já de si complicado.
Sou da opinião que a roupa laranja deveria ser obrigatória na caça de salto, não só ás Galinholas, mas a todas as espécies que caçamos, não creio que uma Perdiz, uma Lebre ou uma Codorniz deixe de ser abatida por vestirmos um colete, ou até mesmo um chapéu Laranja, mesmo que uma ou outra perdiz voada se pudesse desviar, que significado poderia ter isso se um dia este mesmo colete nos salvar a vida!?
Pessoalmente defendo que óculos e roupa de cor contrastante deveriam por lei ser obrigatórias na caça de salto, infelizmente ainda é tempo dos olhares desconfiados e de gozo, quando nos cruzamos com um caçador já de alguma idade e de ainda mais velha mentalidade ao verem-nos de óculos protectores e roupa laranja, é este tipo de mentalidades que um dia estou seguro serão algo do passado, ao vermos caçadores Americanos percebemos que tudo não passa de uma questão de tempo, o que hoje é moda nas Américas amanhã é na Europa, embora seja esta uma moda que deverá chegar rápido e para ficar, dada a sua importância na segurança de todos nós.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Tecnologia ou tradição?

Chocalho ou beeper? Esta é uma pergunta legítima para quem se inicia neste tipo de caça, embora seja também uma pergunta comum mesmo para os caçadores mais experientes em determinadas situações.

O chocalho.
Este é um acessório ancestral na caça ás Galinholas, há muito que o caçador dotado de inteligência encontrou uma forma de mesmo sem o ver, acompanhar o seu cão e saber a sua localização em terrenos fechados, onde a vegetação e urografia do terreno são aliados da presa e não do predador.
O chocalho é um acessório simples que, tem no cão uma função não tão distante que tem no pescoço de uma ovelha, ou seja, indicar-nos a sua posição, ao cintilar o chocalho dá-nos a perceção de onde está o nosso cão, ao calar-se, esse momento mágico, o chocalho silenciosamente como que em segredo diz-nos que o nosso cão está parado, é aqui que o chocalho peca! E quando não o ouvimos calar? Por este mesmo motivo é que houve a necessidade de se inventar o beeper. O chocalho dá-nos então indicações preciosas sobre os movimentos do cão, diz-nos também quando se silencia, que o cão entrou em mostra, mas quando por falta de atenção ou por qualquer motivo por momentos nos desligamos do seu som, ele não nos indica onde está exatamente o nosso cão parado com uma ave, este pequeno grande detalhe é imperativo na obtenção ou não do sucesso no lance.

O Beeper.
Este pequeno e precioso aparelho eletrónico veio colmatar as lacunas óbvias do chocalho. Por um lado este aparelho facilita-nos no momento mais importante do lance, a paragem. Ao contrário do chocalho que se cala quando o cão entra em mostra, este por sua vez toca nesta situação, e enquanto o cão estiver parado ele toca, suportando até deslizes controlados avisando-nos da situação.
E quando o cão está a caçar, em movimento? Aqui podemos conjugar estes dois acessórios, beeper e chocalho, os dois complementam-se na perfeição. Embora a maioria dos beepers tenham também a função de chocalho disponível com um simples toque num botão e, além de tocar quando o cão para, toca também 5 em 5 segundos com o cão em movimento, substituindo assim o chocalho. Pessoalmente quando necessito de “sentir” o cão prefiro o chocalho junto com o beeper, apenas por questões de gosto pessoal, por gostar de ouvir o cintilar do chocalho.

Chocalho sim ou não?
Para muitos esta pergunta não tem razão de ser, um dia de galinholas sem chocalho não funciona. Mais uma vez pessoalmente penso que o chocalho é útil sim, mas doseado. Não sou adepto do chocalho em todas as jornadas, muito pelo contrário. Talvez um ou outro levante inesperado antes de eu e o cão nos acercarmos de uma ave me tenha levado a ponderar na sua utilização.
Uma Galinhola de fim de época, ou uma ave que antes de chegar a Portugal, e que foi perseguida em França por um cão Bécassier, ou em Espanha por um cão Becadero, talvez, digo e sublinho, talvez conheça de cor o significado do som do chocalho, optando por levantar mal ouve este som familiar.
Chocalho para mim o menos possível, agora beeper e GPS, sempre. Estas são formas muito pessoais de ver este assunto, outras formas de outros caçadores são igualmente válidas desde que o final seja idêntico.

A importância da arma e do cartucho.

A Arma.

Poderíamos pensar que a utilização da arma que mais estamos adaptados e, a qual nos dá os melhores resultados jornada após jornada nas perdizes ou nos tordos, será sem duvida a escolha perfeita. Talvez teoricamente as coisas vistas desta forma tenham lógica, mas nem sempre ou até mesmo atrevo-me a dizer que na maioria das vezes esta formula não resulta.
A arma neste tipo de caça tem de ser ou pelo menos é-o em muitos dos casos também ela á semelhança do cão, uma especialista, por norma o caçador de Galinholas, ou aquele que faz desta caça algo mais incisivo, onde gasta mais da sua curta época venatória, sabe que a arma aqui faz a diferença. A arma que por norma nos da tantas alegrias nas sortidas ás perdizes, aqui não é aquela companheira fiel que estamos habituados, os habituais 71 cm de cano que nos permitem fantásticos abates nas perdizes, pombos e tordos entre outros, são nas Galinholas muitas vezes inúteis.
Os terrenos demasiado fechados, a dificuldade de progressão e de Swing, os tiros rápidos em grande parte de chofre a aves que saem tão rapidamente que são abatidas pelo dedo e não pelo cérebro, requerem uma arma especialista, uma arma curta, manejável de fácil encare.
Por norma foi adoptada pelos Becaderos, o cano 61, os choques são frequentemente cilíndricos, ou em alguns modelos de algumas marcas estriados. Será que é assim tão necessário este grande número de requisitos? Para o caçador normal que faz da caça ás Galinholas um simples divertimento esporádico, onde não faz mais de 3 ou 4 jornadas por época, não se justifica uma arma especial, mas para aqueles que fazem desta caça o ponto alto do calendário venatório, para muitos que apenas esta espécie lhe dá alento para saírem ao campo, onde sempre que podem estão no encalço de bicudas, uma arma especial faz toda a diferença. Canos a rondar os 61 cm, cilíndricos num corpo manejável é de extrema importância para se alcançar o sucesso naqueles lances mais complicados nos terrenos mais típicos.



Justaposta, sobreposta, ou automática? Este para muitos é um dilema, mas os caçadores de galinholas, ou pelo menos e talvez para a maioria não é complicado, pois o carisma e misticismo que a Dama oferece requer por etiqueta, chamemos-lhe assim, uma bela justaposta. É contudo certo que muitas vezes apenas há espaço e tempo para um único disparo, o segundo poucas vezes é dado comparativamente com outro tipo de peças de caça, o que nos leva a pensar na efectividade do terceiro tiro de uma automática. Na realidade e na prática devemos caçar com a arma que nos transmite confiança e com a qual nos sentimos bem, independentemente das suas características.



Calibre 20 ou 12? Este assunto é pouco discutível, é certo que os modelos de Calibre 12 tem uma grande vantagem, mais e melhores cartuchos disponíveis no mercado, cargas deste calibre especialmente concebidas para esta disciplina estão largamente difundidas no mercado, ao contrário de cargas especial Galinhola em calibre 20, além da pouca escolha de cargas, há também o factor (mãozinhas) ou seja, para se ter sucesso com este calibre há que ser melhor atirador, pois este calibre requer atiradores mais capazes, o tiro por melhores armas, cargas e choques que se utilizem, sai sempre mais fechado, o que aqui não é de todo recomendado, embora haja e conheça atiradores com armas de calibre 20 que caçam ás galinholas com enorme sucesso, como vantagem deste calibre temos a diferença de peso na arma, pois por norma uma arma de calibre 12 pesa 3 Kg e uma de calibre 20 pesa 2.7 Kg, ao fim de uma jornada faz diferença. Cabe a cada caçador saber onde se inclui como atirador e caçar com o que acha confortável e eficaz.

As cargas.
Desde há muito que as cargas para esta espécie são diferentes, já la vai o tempo que os caçadores carregam as suas cargas de forma diferente para determinado tipo de espécie a abater, e a Galinhola não é diferente. A industrialização e evolução desta originou novos produtos e novas técnicas, o caçador deixou de carregar cartuchos em casa e as fábricas começaram a carregar cartuchos com buchas de plástico, que em nada favoreciam a dispersão do tiro, essencial nesta modalidade. Um novo mercado e capacidade financeira global aliado ao consumismo fizeram as empresas repensarem nos seus produtos e lançarem para o mercado novas cargas especiais capazes, de suprimir as necessidades do mais exigente dos caçadores. Aparecendo assim não só para a galinhola, mas para muitas das espécies, cartuchos concebidos especialmente para uma determinada espécie.


Nas Galinholas não há a necessidade de chumbo grosso, pois a delicadeza da ave faz com que qualquer baguinho a atire ao chão, o chumbo 9 ou 10 são os mais utilizados. Há a ideia que um chumbo mais grosso tipo 5, é o ideal, pensando que estes furam as folhas e passam pelos ramos até atingirem a ave, há quem utilize este tipo de cargas, embora poucos caçadores mais experiente as utilizem, dando preferência a cargas especiais de chumbo miúdo.
Por norma as cargas são entre 34 e 40g, muito chumbo mas carregados com pouca pólvora, para que o tiro abra o mais depressa possível, ajudados na maioria das vezes por buchas de feltro, de forma a conseguirem um tiro uniforme que abra rapidamente.
No mercado consumista este tipo de cargas é um bónus para quem compra e para quem vende, havendo já disponíveis cargas com chumbo quadrado e cargas com chumbo de vários calibres 9 e 10 num mesmo cartucho tudo para satisfazer as necessidades de becadero mais exigente, claro que estas cargas são de elevado preço, talvez a necessidade e a especialidade contribuam para os preços verdadeiramente astronómicos destas cargas aparentemente simples.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O Cão de Galinholas.

Um generalista, um especialista, o que deve ser um cão de Galinholas, quais as características de um chamado “Super Cão” de Galinholas, quais as características que o podem diferenciar dos cães normais, será um Cão de Galinholas de topo apenas capaz de caçar à Dama, ou também ele é um generalista, são estas e outras perguntas que muitos caçadores se questionam.

Quando falo de um cão de Galinholas, obviamente falo sempre num Cão de Parar, das possíveis e várias maneiras de caracterizar um Cão de Galinholas, a minha é obviamente muito pessoal, diferente mas talvez tão igual a muitas outras, caracterizadas por outros apaixonados por este grande protagonista, o cão.
Um cão de Galinholas tem de ser um sentimentalista, também ele, um apaixonado, um artista e acima de tudo um grande especialista.
Um Cão de Galinholas, será um feliz eleito quem sabe escolhido através de nós por uma mão divina, que o separa dos demais para ter uma vida repleta de emoções e jornadas de sonho.
Desde cachorro que alguns cães das mais variadas raças demonstram algumas características que nos levam a sonhar e a projectar num determinado cachorro um futuro promissor como Cão de Galinholas, talvez um olhar mais atento, uma brincadeira descuidada no campo nos faça despertar a impressão que temos ali algo diferente capaz de vir a ser o nosso futuro companheiro com que sempre sonhamos, ou o mais recente aprendiz da mais bela disciplina da caça, irá quem sabe igualar as prestações do nosso velhinho companheiro, que por nosso egoísmo ou falta de sucessor lhe prolongamos a carreira.
Cuidamos dele como se do Enviado se tratasse, treinamos sempre que podemos, ou investimos num treino com um profissional, muitas vezes fazemos por ele o impensável, mas sempre com a forte convicção que será ele o digno sucessor.
O que esperamos dele então? Esperamos que seja um cão impetuoso, dinâmico, mas ao mesmo tempo calmo e concentrado na presença da ave, dedicado e delicado na abordagem, mas forte no campo, de excelente nariz, pois muitas são as vezes que tem de trabalhar sem o precioso auxilio do vento ou com ele pelo lado menos favorável, o sentido de adaptação tem de ser elevado.
Um cão sem medo de entrar em matos fechados, capaz de nos trabalhar uma bicuda e bloqueá-la de forma segura nos locais mais inóspitos do bosque e, depois cobrá-la em zonas complicados, onde na maioria das vezes não a vê sequer levantar e muito menos sabe onde caiu, sair para cobrar na direcção do tiro é um factor importante e determinante para reavermos a nossa peça abatida, este aspecto importante terá de ser treinado e aperfeiçoado na altura devida.
O treino não é de todo diferente dos demais cães de Parar, apenas mais incisivo em zonas mais fechadas há semelhança do que irá encontrar em terrenos típicos onde a Dama domina.
As perdizes são um importante passo, as codornizes é discutível, isto porque obrigam e ensinam a seguir de rasto e nariz no chão, e permitem mostras muito perto, desadequado às Galinholas, mas quando passa para o nível mais exigente, esta ou estas espécies já são um passado na sua aprendizagem onde tirou o doutoramento com distinção.
O nível seguinte é caçar em zonas fortes e de preferência em presença do maior número de Galinholas, para que ganhe a máxima experiência e comece a entrar no espírito da nova disciplina e entregue o seu coração à Dama.
A partir daqui a cada lance o nosso cão melhora a olhos vistos, deixa-se dominar pela paixão e entrega-se de corpo e alma em cada lance, rejubila de alegria sempre que lhe colocamos o chocalho, nós sentimos que por fim fomos recompensados pela dedicação e esforço que empreendemos.
Estas doces palavras são a síntese do que teoricamente é um cão de Galinholas, mas nem sempre um cachorro que nos pareceu promissor será no futuro um bom cão de galinholas, mas se é assim tão complicado conseguir-se um bom cão de Galinholas, qual é o segredo?
Não sei se há um segredo para um bom cão de Galinholas, talvez haja uma potencialidade, uma característica comum a todos os bons cães de Galinholas, uma delas e que é determinante, é a capacidade de entrega, pois um bom cão de Galinholas tem de ter uma entrega e uma paixão acima da média, as várias jornadas longas e duras sem a presença de uma bicuda apenas são suportadas por cães muito apaixonados e cientes ao que andam, têm de ter a força de caçar com o mesmo empenho de manhã à noite, palmeando terrenos duros sem sentir uma única bicuda, mas sempre com a mesma determinação, empenho e acima de tudo concentração, num momento inesperado pode sentir uma emanação e tem de conseguir calmamente trabalha-la e completar o lance com uma bela paragem.
Resumindo então, quais os pontos principais que deve ter um cão de Galinholas, força de vontade, a paixão pela ave. Muitos de nós temos a consciência correcta que há cães verdadeiramente apaixonados pelas Galinholas, cães que fazem também eles desta ave a sua escolha e a sua caça, muitos até que são medianos cães de codornizes e de Perdizes, mas que aqui se superam. Portanto a Paixão e concentração constantes são os pontos principais, dadas as características da disciplina.
Será um cão generalista pior que um cão especialista?
Não sei se esta pergunta tem razão de ser, mas a resposta é simples, para o caçador comum um cão generalista é tudo, pois completa-o e complementa-o, para um caçador também ele especialista, um cão tem ou deve também ele ser pelo menos nas Galinholas um especialista, os abates são reduzidos, os lances são poucos comparativamente com outras espécies e, um cão especialista faz a diferença, encontra pássaros onde outros nada sentem, vai buscar uma galinhola naquele cantinho que outros cães não se atrevem a lá ir, é a diferença mais visível, muitos cães não têm a capacidade de entrega para fazer um dia inteiro a caçar nas estevas e tojos sem sequer sentir nada, pouco depois esmorecem abrandam o ritmo e, quando surge a oportunidade de um lance tão esperado, estão desconcentrados e metem as galinholas em fuga, muitas vezes sem sequer o caçador se aperceber. Por isso confiar no cão é algo fundamental, saber que às 8 da manhã ou às 4 da tarde se o cão der com um pássaro tem a capacidade de o trabalhar e dar à morte ao seu companheiro. Aqui não são permitidos individualismos, quer por parte do cão quer do caçador, é acima de tudo um trabalho de equipa, os dois têm de saber que são ambos importantes para haver um cobro, o cão deve ser independente o suficiente, mas saber no meio de tanta independência onde está a arma, trabalhar para ela, e o caçador deve saber ler os sinais do cão, mas isso são outros predicados que ficam para outro artigo.
Aqui não são aceites cães de fraca paragem, de faca entrega, de fraca paixão, e em especial desligados da arma e que tenham dente duro, pois a delicadeza da ave e o facto de se comer as entranhas e destas serem uma iguaria, carece-se de cães de dente doce e que cobrem magistralmente.
Estes são alguns pontos de elevada importância num Cão de Galinholas.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Diário de um Becadero. 2007 (parte 2)

17-01-2008

Em francês.


O francês dominava o dia, pois esta semana estava cá um grande Amigo do Jorge, o Sr. Michel Vassenet e a sua esposa, pessoas educadas, ambos grandes viciados em caça, cães e tudo o que os rodeia, para mim o Sr. Vassenet é o “guru” dos Pointers, a minha raça preferida de cães, ele tinha conduzido e ganho variadíssimas provas com esta magnifica raça, várias vezes Campeão do Mundo, criador reconhecido e proprietário do famoso canil La Rue Fleurie, onde todos os meus cães têm origens. Foi com muita alegria que ouvi da boca dele, grande conhecedor da raça, palavras de felicitação pelo meu cão, “le Petit Pointer”, que eu tinha emprestado uns dias ao Jorge e que o Sr. Vassenet escolheu como seu companheiro de caça nestas pequenas férias. Tinha sido uma semana em cheio para o cão, em brincadeiras diziam que “le Petit Pointer”, Faruck tinha feito vários CACIT sobre Galinhola, termos técnicos no meio cinotécnico, (CACIT a nota mais alta em competição), pois o cão tinha feito um trabalho fantástico durante essa semana, como que se mostrando ao Sr. Dos Pointers que é um Sr. cão, para mim um apaixonado pelo meu companheiro eram palavras destas vindas de quem vinham que me enchiam o ego.
A jornada começou cedo, claro que o cedo nas Galinholas nunca corresponde no cedo das perdizes ou patos, é para nós por volta das 9h. a zona escolhida era um pequeno bosque de pinheiros bravos, novos e fininhos, muito juntos com estevas e tojos pelo meio que faziam uma habitat perfeito para a Dama, e onde eu dias antes tinha errado a primeira Galinhola parada pelo Frick.
Agora novamente nas minhas mãos, Faruck trazia-me de novo uma outra qualidade e certeza e, rapidamente dá com a tal Galinhola que andava a monte há 3 ou 4 dias, um tiro longo e estranhamente nenhum cão dá com ela, e não eram cães quaisquer, era a elite dos cães de Galinholas, ZAZA a cadela Braco Almão que estava também emprestada, talvez a melhor cadela de sempre de Galinholas em Portugal, Uster grande cão de Galinholas, Faruck, Anita uma Setter muito experiente, qual deles o melhor, é como ter em campo Figo, Cristiano Ronaldo, Eusébio e Futre, algo assombrante num mesmo jogo.
Mas estranhamente todos lhe passaram por cima, e fui eu que a cobrei ao ver a galinhola dar à asa no chão, é assim também vi o figo e os outros falharem grandes penalidades e não deixaram de ser bons por isso.
Decidimos então ir ver o “val mistério” uma zona de pinhos e estevas, palco de encontros abundantes e lances e abates fantásticos em outros anos com o Jorge. Para mim o nome não poderia estar mais adequado, pois a palavra mistério é a que melhor se enquadra, visto nunca lá ter visto uma Galinhola, e este dia não seria excepção.
Vou então e para não sermos muitos e não termos de caçar como nãos gostamos, em linha, para uma zona diferente, mas que tanto gozo me dá, os pinheirinhos. Sozinho naquela zona com Faruck se é dia, vou-me divertir, mas apenas uma lá estava, como que a ultima guardiã de tão magnifico castelo. Vejo então o cão fazer um rasto que desta vez sinceramente julguei ser de coelho, vejo-o por entre os pinheiros e ligeiramente afastado ficar parado, levantou-se então uma Galinhola rapidamente sem sequer deixar o beeper tocar, arisca sem vontade de tombar. Chamei o Jorge para trazer o Sr. Vassenet e a esposa, para que juntos a procurasse-mos e quem sabe eles a matassem, mas nada, mais uma daquelas que na Apostiça não dão segundo levante. Acabou por ser abatida outro dia pelo Jorge e parada pelo uster no mesmo local do primeiro levante do Faruck.
Era hora de almoço, entre historias onde apenas haviam dois protagonistas, Cães e Galinholas, lá ia-mos devorando uma grelhada.
Era hora do segundo tempo, a tal, esquiva, blindada que vive na maracha. De botas e sem arma lá fui eu com o Faruck, pois esta requeria algum jogo de bastidores, pois era demasiado esquiva, tinha de ser trabalhada por um bom cão, que soubesse e gostasse de nadar em águas frias de pleno Inverno para passar a ribeira a nado e entrar nos seus domínios, uma pequena ilhota, muito fechada com salgueiros e silvas onde ela fez sua guarida, cá fora da maracha ficavam o Michel e a esposa, à espera do ouvirem o beeper. E assim foi, Faruck entra a nado qual fuzileiro bem treinado, a abordagem foi cautelosa, como que sabendo da mestria da opositora, eu entro atrás do cão, galgando a água por cima de um tronco de um velho salgueiro caído que ali estava quase perfeito fazendo de passadiço entre a realidade e o imaginário.
O cão deixa-se de ouvir, o beeper rompe o silêncio, todos em redor ficam de olhos postos naquela pequena ilha, ela estava ali, mas no meio daquele terreno sujo, como que por magia ela consegue iludir-nos e desaparecer por entre a vegetação cerrada. Foi mais forte!
Refeitos da emoção lá vamos nós para outra zona, de tojo, fechado e duro, procurar outra dissidente, que estava onde menos se esperava, trabalhada pela Zaza, e abatida num tiro simultâneo luso-português, um cobro complicado mas com manha lá se conseguiu. Depois era hora de ver como andava de pássaros noutras paragens, menos batidas, mais sujas e complicadas, 2 erradas pelo Sr. Vassenet foi o de mais relevante.

20-01-2008

Uma manhã de Domingo.

Uma manhã fria de um domingo de Janeiro na Apostiça foi palco de mais uma jornada calma sem muitos apertos no coração.
Escolhida a Shepa para companheira de jornada, para dar descanso ao Faruck após uma semana de caça intensiva, proveitosa em lances protagonizados por ele, mas que sem duvidas lhe deixaram marcas, o cansaço era evidente portanto decidi deixa-lo uns dias em casa a recuperar para outros embates em que ele é mais necessário.
A zona escolhida era a mesma onde o Michel tinha errado 2 pássaros dias antes, pinhal novo com muita silva e tojo cerradíssimo ladeado de eucaliptal tornavam a coisa dura e difícil.
A primeira saiu ao Jorge levantada pelo Talof, um Braco Francês de competição que nunca tinha caçado ás Galinholas mas as suas aptidões para esta caça eram latentes.
Palmeando terreno, gemendo e cerrando os olhos aqui e ali a cada arranhão ou picadela de silvas ou tojo, lá fui andando, confesso que a motivação era pouca, não acreditava no terreno, achava mesmo para uma Galinhola demasiado impenetrável, mas ser caçador de Galinholas é isto mesmo, espírito de sacrifício. Talvez eu tivesse uma pouquinho de razão, pois apenas vi um pássaro numa zona mais limpa e com melhores características, curiosamente já ao cair do pano e com o carro à vista. A Shepa lá desencanta num rebuscado arbusto uma bela ave de bico, que num tiro rápido cai pouco à frente, pronta a ser cobrada alegremente pela cadela. Fui tudo e talvez mais do que esperava naqueles terrenos tão inóspitos.

22-01-2008

Complicado é pouco.


9 da manhã e a adrenalina de sempre acerca-se de mim, pergunto-me até quando esta pequena ave de Bico me fará sentir tamanhas emoções?
As zonas e os companheiros de caça, os mesmos de sempre, velhos hábitos que não mudam, eu e o Carlos Lopes, o Jorge e o Mário faziam os dois grupos que distantemente próximos caçávamos.
Um cabeço conhecido, uma zona que para mim era novidade, saio com o Faruck, que pouco depois me pára uma Galinhola, percebo pela expressão do cão que se estava a furtar a pés, o beeper toca, o Carlos acerca-se assim como o Mário, digo ao Carlos que, ela está a furtar-se ao cão, leio isso na sua cauda pestanejante, mudo e volto a mudar de posição à espera do melhor ângulo de saída da ave, mas esta tarefa torna-se complicada, pois o cão parado mudava constantemente de posição, o que nos leva à velha questão, será o cão a parar a caça, ou a caça a parar o cão!? Ela sai então, completamente tapada por um velho pinheiro, a minha reacção foi de perplexidade, o cão olha para mim e eu por trás dele vejo sair uma outra Galinhola, não sei porquê, que admiração há numa galinhola sair furtada e completamente tapada? Nenhuma! Cada lance tem uma reacção característica, este foi o espanto e ter dito ao Mário “Calma, calma” ele não entendeu o porquê das minhas palavras, talvez eu inconscientemente já visse aquela Galinhola num outro lance mais à frente, talvez e estupidamente a acha-se minha propriedade, mas tal não sucedeu, não demos com nenhuma das duas.
Pouco mais à frente, presencio o bailado mais fantástico alguma vez presenciado por mim. Um pequeno aglomerado de árvores, pinhos e chaparros, poucos, com algum sargaço pelo meio, numa ponta encurralada entre uma vedação e um caminho, o Faruck começa a pistear notoriamente um pássaro, que pelo meio do sargaço lhe trocava as voltas, eu agarrado ao ferro sentia que ela ia sair a qualquer momento, não tenho muitas palavras para descrever a beleza da cena. Pouco mais de 10 metros quadrados de sargaço, numa clareira entre as árvores, uma esteva maiorzinha embelezava a coisa, o cão louco a sentir a ave, deslizava e parava, desfazia a paragem e voltava a parar no outro lado, e a cena repetia-se, quando, subitamente, pára de frente para mim, aqueles olhos vidrados, em transe, faróis num corpo imóvel indicavam que ela estava ali entre os dois. De repente a cauda do cão move-se tão lentamente que apenas eu a sabia entender, o pássaro estava novamente a furtar-se! Nem queria acreditar, senti-a então a sair nas minhas costas, a menos de 1 metro dos meus pés, virei-me rápido mas já só consegui um pequeno vislumbre ténue entre ramos dum velho chaparro, que quase dava a ideia que se moveu para proteger a Dama e lhe assegurar a fuga. Que lance fantástico, que trabalho do cão, que Galinhola esperta, tinha-se furtado entre mim e o cão, no meio do sargaço tinha-se metido nas minhas costas e de uma forma limpa foi mais forte que eu e o cão! Ela esteve melhor, de uma forma merecida ficou para viver!
Sem que tivesse sorte nos abates, tinha comigo a sorte de desfrutar dos mais belos lances, eles, os companheiros, faziam um abate aqui e ali, com lances à medida de cada um.
Mudamos então de zona, para uma ladeira alta perto de uma ribeira, o chão mostrava que por ali tinham de andar pássaros, era impressionante o numero de buracos e raspados por toda a zona, parecia que um batalhão de pássaros ali tinham vasculhado toda a zona até chegarem ao ultimo verme, nunca tinha visto nada assim na minha vida, já tive a oportunidade de em certas zonas verificar ao vivo a indicação de pássaro pela zona toda esburacada, mas assim não, era demais.
Mas apenas uma nos saiu, estranho, tanto buraco não era certamente de uma só ave, mas infelizmente uma era a conta, ainda por cima dividida por dois, ela sai ao Carlos é chumbada por ele, e também por mim quando me passa perto, vimos que cai lá em baixo da ladeira, chumbada pelos dois de quem seria esta ave, não que isso constitui-se algum problema, mas só poderia ser de um, resultado seria daquele que o cão cobrasse, após alguma dificuldade da zara e da Shepa, duas Setters más cobradoras, calhou-me a mim em sorte, era a Shepa que vinha com ela na boca, estava então resolvido o enigma.
Não foi um dia de grandes abates para as Galinholas paradas, mas lances bonitos, esses tive os melhores sem dúvida.

27-01-2008

Com os mais novos também se aprende.


Uma Zona de caça municipal conhecida era mais uma vez o local escolhido. Feita a inscrição pedem-me se me importava se comigo fosse um senhor que conhecia mal a zona. Simpático o senhor, com 3 Bracos iniciava-se esta época nas Galinholas, com um abate apenas contra os meus 19, estranhamente olhava para mim com um ar de intrigado com um pouco de interesse à mistura, ansioso por saber o meu segredo para o sucesso. Directamente surgiu a pergunta, “como tem tantas Galinholas, onde as mata?” a minha reposta foi como sempre evasiva, educadamente lá respondi sem entrar em detalhes que tinha algumas boas zonas onde caçar, que perdia muito tempo nesta caça e que tinha bons cães, sintetizei a verdade.
Com o passar do tempo, conversa aqui conversa ali, lá me fui abrindo mais, libertando um pouco a minha carapaça rígida que me caracteriza quando conheço pessoas novas. O Sr. sempre simpático com um ar de ternura e saudade, diz-me o seguinte: “sabe você é jovem e faz-me lembrar o meu filho que tinha a sua idade neste momento se fosse vivo”. Eu devo ter feito uma cara estranha, não esperava, mas o Sr. Andava ás Galinholas por motivações distintas das minhas. Era para ele um escape, uma forma de se libertar da prisão de memórias de um filho falecido que perdera uma batalha contra o cancro. Eu por sua vez tinha-o feito relembrar o seu filho, numa altura que não era suposto, mas, não sei se quem perde um filho consegue sequer passar um minuto abstraído de pensamentos marcantes.
Levei-o à minha zona mais quente, não sei se por solidariedade ou uma espécie de ternura, ou pela ainda maior vontade minha de lá ir ao “meu” cantinho mágico, talvez um pouco das duas.
O Sr. Sempre muito presente tentava saber e colher o máximo de informação possível, pois tinha gosto por esta caça, mas notoriamente pouco conhecimento, eu dentro do possível tentava ajudar, até lhe dei com gosto um dos meus cartuxos especial Galinhola, para ele experimentar, o qual vim a saber depois que esse mesmo cartuxo tinha abatido uma Galinhola.
Apesar da minha boa vontade, não estava nenhum pássaro no meu cantinho. Decidimos então ir para uma zona nova que desconhecia e que nem sabia que fazia parte da ZCM.
Pinhal novo, com alguns poucos Eucaliptos, uns matos de bom aspecto e mimosas baixas e muito juntas formavam uma zona espectacular para Galinholas. Infelizmente nada, só no final da mancha o Faruck pega num rasto, mas que pouco depois desliga, eu fiquei com a sensação que estava ali um pássaro, e como tal vou para trás para a zona que achava possível caso o meu pressentimento fosse verdadeiro, estaria a ave.
Estranhamente foi numa baixa com algum pasto rasteiro sem matos crentes e muito despida que o cão me faz uma guia frenética e fica parado de frente para mim num matinho pequeno com não mais de 10 cm de altura, sai a galinhola já tapada pelo único arbusto capaz de a esconder, mas sem hipótese rapidamente atiro e abato a ave.
O Sr. Sempre atento fica extasiado com o trabalho do cão e seguidamente dá-me os parabéns com o tradicional aperto de mão becadero.
Depois de caminho até ao carro, foi altura de um jovem ensinar um pouco do que sabe a alguém mais velho e com muitos mais anos de caça. Espero que tenha dado alegrias e que tenha feito relembrar coisas boas a tão gentil senhor.

03-02-2008

O bailinho da Madame.


Uma manhã fria de Fevereiro trazia-me à memória lembranças intemporais de lances vividos pouco tempo antes, naquela mesma zona, não sei porquê mas as expectativas não eram muitas, a zona sempre foi fraca em pássaros, apenas tinha algo de bom, as características e a beleza do terreno proporcionavam sempre lances de rara beleza.
A mancha era a mesma onde tinha vivido o lance mais belo da época, onde com um Bom amigo o Frederico tínhamos presenciado um lance fantástico do cão, numa Galinhola errada a meias, e onde com o Jorge tinha morto a minha primeira da época passada, parada pelo Faruck, que aguentou todas as entradas forçadas de 2 cães novos.
Pensando bem até tenho tido alguns lances naquela mancha, agora que faço contas não são assim tão poucos.
Faruck foi mais uma vez o escolhido, não vá ter entrado pássaro com o tempo que fez nessa semana, e já começa a ser hora de aos poucos elas começarem a regressar a casa e fazerem umas paragens por estas bandas, a zona é boa para galinholas de passagem, pois alberga todas as características que uma Galinhola necessita, é um plano alto, bastante húmido, terreno irregular repleto de vegetação típica. “Talvez tenhas sorte, este tempo faz mexer muito os pássaros” foram as palavras matinais do Jorge quando nos despedimos, pois ia de viagem para mais um ano de provas na semana de Andaluzia.
O ritual é o mesmo de sempre, o carro parado no local do costume, o cão sai do carro com a mesma alegria de sempre (ainda há quem pense que um cão de caça não se diverte, é porque nunca viram de perto!) meto-lhe o beeper, visto o colete, pego na justaposta e lá vou eu, com a convicção e paixão habituais. A mancha já não tem segredos, é feita sempre da mesma maneira, minuciosamente bato eu e cão todos os cantinhos conhecidos, até que pouco depois num local “quente” o cão pára a primeira, esta levanta direita à copa de um eucalipto mas depressa tomba perto do cão que prontamente a cobra, era uma das clarinhas, linda, tão linda! Saco do telemóvel e ligo de imediato para o Jorge que ia em viagem, muito antes de sair de Portugal, já eu tinha uma Galinhola aconchegadinha no saco de veludo. “Jorge a Primeira já caiu!” ouve-se do outro lado um suspiro, indicativo de uma consciente nostalgia e saudade de quem está longe e não pode acompanhar, a resposta não podia ser outra “então como foi?” por telefone tive de contar o lance na integra, faz parte, quando não caçamos juntos temos por habito ligar um ao outro e contar o lance, tipo relato telefónico, por vezes ao vivo e em directo, pois por uma ou outra vez por telefone ouvimos de repente o beeper do cão tocar, e a celebre frase, “Espera aí que vou atirar” e com o telefone no bolso ou como uma vez no meu caso agarrado com os dentes, completamos o lance, o outro longe acompanha o lance por telefone. O Jorge refeito da notícia lá segue caminho, convicto e consciente que para ele a época tinha findado.
É tempo de continuar, se ali estava uma Galinhola naquele local, é provável que estivesse outra na melhor zona, o cão entra então na zona melhor, sinto o cão fixado num rasto de pássaro, rápido faz a zona de tojo e por trás de mim levanta-se uma galinhola esquiva. Conhecedor do terreno imaginava onde poderia estar, vou lá com o cão, pouco depois estava parada, sai rápida mas estranhamente erro um tiro fácil, cerro os dentes, chamo-lhe um nome feio, engulo em seco e lá vou eu mais o cão, tentar de novo. Mais uma vez tinha uma noção de onde ela poderia estar, estava mesmo, o cão pára-a a uns escassos 30 ou 40 metros de mim, ela não se deixa chegar, levanta novamente. Pouco depois dei novamente com ela, ouço o beeper tocar, mais uma vez ela não me deixa chegar perto e levanta mesmo à frente do cão. A história repete-se por 9 vezes, o cão a para-la ela a não me deixar chegar e a levantar sem me deixar acercar do cão. Mudei de estratégia, deixei o cão a parar e ir pela frente, mas nem assim, ela foi sempre melhor que nós. Nem mesmo numa zona que bem conheço e bastante afastada da zona que inicialmente estava consegui atirar, foi sempre mais forte, mais esperta, certamente já trazia de outras bandas muita experiência com cães e caçadores, ensinamentos valiosos para ter saído vitoriosa, espero que nada lhe aconteça até à sua zona de nidificação e que nos encontremos aqui na próxima época.

07-02-2008

Com muita fé!


A época já vai larga, as expectativas eram altas, Fevereiro era já altura dos regressos, era hora do regresso a casa para muitos migradores, o tempo tinha mudado durante a semana o que faria certamente mexer os pássaros, na Herdade as inúmeras marrequinhas tinham-se já feito ao caminho, como emigrantes que são tinham já muitas delas iniciado o regresso, havia por lá uma mínima parte do que lá andava na semana anterior, era um sinal indicativo que os ventos favoráveis levavam já de boleia muitas aves migratórias. As Galinholas com sorte teriam entrado na Herdade, pois as que estavam mais a sul do país teriam de fazer uma paragem e nada melhor que esta Herdade para um curto descanso, entre as várias etapas.
Rapidamente verificamos que as nossas expectativas não estavam goradas, lance atrás de lance, Galinhola atrás de Galinhola, elas iam tombando.
As zonas as de sempre, principalmente aquela que já lhe chamávamos “o cantinho do Faruck” as suas marcantes prestações aos olhos de todos naquele local fizeram com que aquela zona fica-se assim apelidada.
Mais uma vez o Faruck esteve muito bem no “seu” cantinho, eu junto com o Carlos fazíamos um grupo, o Manel e o Mário outro e assim iniciamos a jornada. Aqueles terrenos amplos, bem arejados e de sargaço novo são bem ao jeito do nariz de um cão britânico, os nossos cães meus e do Carlos (Setter e Pointer) fazem ali a diferença, os galopes, os narizes no ar são bastante úteis. O Faruck após uma época de treinos de competição, sempre bem centrado no terreno, fazia a diferença. Ouve-se um beeper, era a primeira do dia todos ficam com os sentidos alerta, para lá da dobra de um cabeço estava o meu cão, corro para tentar abrir as hostes, mas ela sai antes de me acercar do cão, uma lebre sai-me também debaixo dos pés incrédula afasta-se pensando para ela o que leva esta gente a não lhe atirar, malucos, não, Becaderos. A Galinhola essa tinha passado a vedação para o outro lado, chamo o Carlos e decidimos lá ir ver dela, a passagem era diferente, pelo chão, debaixo da rede, pelos buracos abertos pelos javardos e que lhes servem de passagem, valia tudo desde que lá fossemos parar. Já no outro terreno do lado, de iguais características apenas separado por um caminho começamos a rebusca, Zara e Faruck passavam alternados por mim, indiferentes um ao outro, sabiam o que lhes era devido. De repente Faruck faz uma derrapagem a escassos metros de mim, em ponto pensei eu, lindo, que graciosidade, Zara faz um típico e curto deslize e fica num largo patron, espectáculo, que quadro, um espaço despido e uns escassos 5 m2 de sargaço pregados em terra nua indicavam a localização exacta da ave, “só podia estar ali, pensei” e estava! O Faruck faz um pequeno deslize enquanto o som do beeper me aquecia a alma naquela manhã fria de Inverno. O Carlos observava de não muito longe tamanho espectáculo. Ela levanta completamente à mercê da minha justaposta, bem cobrada tinha-nos proporcionado momentos únicos de rara beleza.
Ouvia-se um tiro não muito longe, o Manel tinha também ele abatido a primeira.
O Mário vai então mais acima numa zoa já seca e desprovida de sentimento pelo pássaro, abate a sua primeira na crista dum cabeço, enquanto isso o Carlos perto de mim, tem um enorme navalheiro parado pela cadela, recomposto lá seguimos.
Separamo-nos então um pouco, eu e o Carlos decidimos de comum acordo revasculhar o sargaço já feito. Os dois temos algumas coisas em comum, somos pessoas simples que vimos a caça de maneiras semelhantes, caçamos bem juntos, temos o gosto talvez raro nos tempos que correm de viver o lance do companheiro com alegria e intensidade como nosso se trata-se, não nutrimos qualquer sentimento de inveja pelos lances vividos pelo companheiro, a beleza de um lance está sempre lá independentemente do cão que o protagoniza e da arma que o finaliza, quer ele ou eu tivemos pássaros abatidos que nos saíram a tiro mas trabalhados pelo cão do outro, não nos sentimos ofendidos por isso, sinto por ele uma grande Amizade apesar de nos conhecermos à pouco tempo, não é normal em mim, pois sou reservado nestas coisas e demoro muito a abrir-me mas, senti nele muita sinceridade nos seus actos e nas suas palavras, o seu bom senso é latente, não há muita gente assim nos dias de hoje!
Regressando à caça. Eu e o Carlos paramos para ponderar a volta, e decidimos que deveríamos fazer a volta que o Mário tinha feito, não sei se por não confiarmos nas cadelas dele, se um feeling, se apenas uma vontade de fazer aquele terreno novamente. O que é certo é que pouco depois o Faruck pára mais um pássaro, que me saiu larga mas é abatida pela Silver Hawk do Carlos, como bom atirador (chamado ao campeonato da Europa) poucos tiros o vi falhar!
Mais a cima a cena repete-se e mais um pássaro trabalhado pelo Faruck que facilmente abato.
Um aqui outro ali todos ia-mos tendo bons lances sempre carregados de emoção, acabei o dia com 3 abates, no total conseguimos 9 Galinholas em 12 levantes, era certamente a ultima boa jornada da época.
Devaneios finais.

Sem Internet nem televisão devido a este mau tempo, um temporal à antiga, sozinho em casa numa noite fria e chuvosa, lembrei-me de escrever o ultimo capitulo deste meu diário de galinholas desta época que ontem findou.
Esta foi uma época proveitosa onde tudo excedeu as minhas próprias expectativas, tinha como objectivo pessoal e já arrojado fazer 12 abates para fazer a “alternativa” de “Becassier” mas depressa percebi que poderia conseguir algo mais ambicioso, pensava dada altura para mim que talvez fosse possível ultrapassar os 12 pássaros, claro que tudo isto foi procedido de um inicio de época bastante assustador, pois apostei tudo na Bela Dama e ela teimava em faltar ao nosso encontro, mas por fim lá se mostrou e a partir dessa data uma atrás de outra mais ou menos difíceis, com mais ou menos historia lá ia compondo as coisas.
Recordo agora alguns bons lances que jamais esquecerei, lances onde eu fui apenas um singelo e dedicado companheiro dos cães, esses sim foram os grandes protagonistas, corajosos e dedicados companheiros de caça, incansáveis trabalhadores que me encheram de alegria este coração Becadero, que a cada lance do cão batia mais forte.
Do Frick não tenho muito a dizer, apenas que sei ser capaz de me surpreender, tenho fé nele e o que vi deu para sentir a paixão que tem acorrentada dentro dele, um par de pássaros vistos entre deles um parado não foram suficientes para lhe dar a experiência necessária, mas mais anos virão.
A Shepa apesar dos problemas de saúde deu-me 5 pássaros onde um deles vou recordar por muitos anos, um belo trabalho e uma paragem deitada que me elevou para outra dimensão, simplesmente belo, tem tudo para ser uma boa cadela de Galinholas.
O Faruck, bem este só de pensar nele as minhas entranhas remexem de emoção, a minha barriga dá um nó, a garganta seca e o coração bate mais forte, penso por vezes que este cão me estava destinado, que veio à terra para preencher alguns vazios na minha vida, talvez alguém que lá em cima que se ocupa a olhar por mim mo destinou.
Em nada me espantou nesta época, foi ele e apenas ele. Dele não posso dizer que recordo um ou outro lance, recordo sim toda uma época quer desportiva (melhor Pointer caça prática do CPP) quer na caça, mas o dia nos pinheirinhos da Apostiça ficou perpétuado, o lance da primeira Galinhola de 2008 esse não me sai da cabeça, como um pássaro, um cão e uma arma podem mexer tanto com as emoções de um Homem, grandes dias no Alentejo, aqui perto de casa e em todos os sítios onde caçamos o Faruck mostrou a sua mestria a encontrar, trabalhar e parar Galinholas, carácter, força, entrega e dedicação fazem a diferença e dão-nos pássaros que aos olhos dos outros caçadores e narizes de outros cães parecem impossíveis. Sinto-me completo e preenchido com ele, a minha Paixão por ele é estranha, como pode um ser humano gostar tanto de um animal, e o contrário também é verdadeiro!? sinto que ele é parte de mim, se ele soubesse quão importante é na minha vida, para repor algum do meu equilíbrio emocional que em mim se esvai rapidamente… talvez saiba.
Comecei este diário dizendo que tinha apostado tudo nas Galinholas, pois bem se mais tivesse mais apostaria, dei-me realmente bem, mas fruto de muita entrega e dedicação, de muito esforço no campo, muitos arranhões de silvas e tojos, muito empenho mesmo nas horas mais complicadas e da qualidade dos cães, nunca esquecendo dos companheiros de jornadas principalmente do Jorge que me ajudou e ensinou muita coisa que me permitiu alcançar este número feliz de 24 Galinholas.
Por ultimo, porque os últimos são sempre os primeiros, a Nessa, pois sem ela nada disto era possível, ela à semelhança do Faruck tem a outra metade do meu coração, paciência para me aturar e para ficar sozinha fins-de-semana a fio, dedicação em tudo o que faz por mim não são ignoradas nem esquecidas, o apoio o carinho e a entrega demonstrados foram para mim tão importantes para fazer os 24 abates como a ajuda do Faruck, pois não há nada que chegue ao prazer de se caçar de mente livre sem carregarmos connosco o peso de deixar-mos em casa alguém contrariado, triste e só. Isto jamais esquecerei, é sinónimo de grande inteligência e de um inegável Amor.
A nostalgia já se apoderou de mim, o som do chocalho e o chamar do beeper estão gravados bem fundo na minha alma. Já sinto a falta das manhãs de Inverno e de sentir os dedos enregelados mesmo dentro dos bolsos, da expressão dos cães, da sensação inexplicável do primeiro pássaro do dia que nos dá alento, da beleza de um levante, da incerteza de um disparo e da perplexidade de um tiro errado, da admiração de um pássaro que se consegue furtar e da inigualável beleza de ver o cão a cobrar uma peça e retornar com ela na boca, do comentar do lance com os companheiros, todos estes e muitos outros pormenores é que me fazem ser um feliz apaixonado pela Bela Dama, Senhora dos Bosques, agora só desejo um bom ano de criação e que a próxima época me traga tantas emoções como esta, sempre na companhia dos meu cães e na da minha maior e mais bela Dama, a Nessa.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Scolopax rusticola

 
Nome Comum: Galinhola
Nome Cientifico: Scolopax rusticola Linnaeus, 1758

Taxonomia:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Charadriiformes
Família: Scolopacidae
Género: Scolopax
Continente: Invernante.
Açores: Residente.
Madeira: Residente.
Distribuição: Distribui-se pelos Açores, Madeira, ilhas Canárias e Britânicas, Europa Ocidental, Cáucaso, China, Norte da Índia até ao Japão. Inverna no Oeste e Sul da Europa, Norte de África, Índia e Indochina.
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habita e/ou nidifica rara/ocasional

A Galinhola é uma Ave limícola da mesma família das Narcejas, ave com a qual apresenta, muitas semelhanças morfológicas. Todavia tem uma envergadura que a distingue facilmente da Narceja. A sua plumagem é em tons de castanhos e ruivos bastante elaborada, que lhe permite obter uma perfeita camuflagem. Possui um bico forte e comprido, com cerca de 7cm, .indicado para furar o solo o procurar o seu alimento favorito, minhocas e vermes, tem uma cauda curta com uma típica pintura branca no final da
mesma e na zona inferior, as asas são compridas e arredondadas.A diferenciação sexual só é visível depois de morta e aberta, de outra forma não há uma diferenciação visível entre sexos. Muitos caçadores acham que o tamanho diferente do bico é indicador do sexo, mas cientificamente não está provado, inclusive muitos caçadores e entusiastas supõem que o tamanho do bico está relacionado com as diferentes zonas de alimentação e crescimento.A ave tem olhos proeminentes, posicionados muito atrás na cabeça, esta posição dos olhos permite à galinhola ter um ângulo de visão de quase, 360 graus

Habitat.
É uma ave típica dos bosques húmidos onde se encontra uma vasta manta morta fértil em vermes, embora variando bastante os seus habitats, escolhendo em qualquer dos habitats que a possamos encontrar zonas mais abrigadas para demarcar o seu território, pois é uma ave que escolhe o seu território e nele passa bastante tempo, podendo ser encontrada várias vezes numa mesma zona.Em Portugal é comum ser vista em Pinhais, Eucaliptais, Montados, Estevas, zonas de sargaço, tojo, e em marachas junto de ribeiras nos anos mais secos.Zona de procriação.A Galinhola procria nas zonas frias da Rússia e países vizinhos, e viaja para a restante Europa durante o Inverno procurando temperaturas mais amenas fugindo assim aos rigorosos Invernos Russos, nas alturas das migrações anuais, dependendo dos ventos a quando da migração as densidades de aves são maiores ou menores, sendo que ocupam praticamente toda a Europa e vão até Marrocos.Chegando ao nosso país é normal verem-se em dias de entrada zonas com uma abundância extrema, mas depois internamente dá-se uma migração interna onde as aves se distribuem, em Portugal estão distribuídas por todo o país, embora as zonas de terras do Sado e do Tejo a sua quantidade seja elevada, mas em maior ou menor quantidade estão distribuídas por todo o país. Nos Açores e na Madeira, são populações residentes que recebem também um circuito migratório. As migrações iniciam-se em Outubro, mas a vaga maior de migração é por volta de meio de Novembro, chegando a Portugal em quantidades consideráveis por volta de 18/20 de Novembro e ficando até final de Março.Durante a migração os machos são os primeiros a partir solitariamente, as fêmeas partem com crias em pequenos bandos, fazendo até 400km por noite numa velocidade de cruzeiro de 65KM/h, visto as deslocações serem normalmente á noite.