Rumei a S. Miguel onde fui recebido pelo Zé e pela sua simpática e hospitaleira família, chegámos à hora
do jantar, esperava-nos uma canja de Pombo Torcaz e umas belas Galinholas
feitas à moda do Zé, nada melhor para começar senão com um belo repasto e um
ainda melhor serão, onde não faltaram as conversas de Galinholas e os lances
marcantes um pouco por todo o lado.
Na manhã seguinte embarcámos bem
cedo para o Pico, uma Ilha especial onde ia-mos fazer a abertura, depois de nos
instalarmos numa casa onde tínhamos defronte a magnifica vista do Faial e do
Porto da Horta, fomos esticar as pernas aos cães, rapidamente o Don pára a sua
primeira Galinholas insular, não tardando a serem os outros cães a fazer o
mesmo, estávamos radiantes pois não ouvíamos aquele “papapa” há muito, e
antevíamos uma abertura proveitosa!
Abertura no Pico:
Domingo, rumámos bem cedo em
direção a zonas mais altas, caçámos em cotas a rondar os 1100 metros, o dia
apresentava-se soalheiro e muito quente, temperaturas de 20°C humidade a rondar
os 90% àquela altitude, dificultavam muito a jornada, minimizava o esforço dos
cães o terreno muito molhado e muita água para beberem.
As Galinholas poderiam estar
em qualquer lugar, mas os Urzes endémicas a que lhe chamávamos “vassouras”, com
fetos secos eram um habitat preferencial! Pouco a pouco íamos tendo lances de
sonho, uns melhor aproveitados que outros, lá caíram as primeiras sempre após o
excelente trabalho dos cães! Caçámos também em bosques de Criptomérias, muito
do meu agrado e do mais belo que já cacei, quando elas encastelam o lance torna-se
mágico e indiscritível!
Ao final da manhã todos
tínhamos o cupo e muitos lances para contar, uns bem filmados outros
lamentavelmente não!
Nessa tarde rumámos de barco para
a Ilha de São Jorge, onde iríamos passar o resto da semana para fazermos a
abertura no domingo seguinte.
Em São Jorge tivemos uma
semana de caça e de pesca, de Garoupas a Sargos e Anchovas, aos Coelhos e aos
Pombos da Rocha, estes últimos proporcionaram-nos momentos inesquecíveis de
grande tiroteio, bem como belas canjas em jantares sempre bem regados!
Pelo que já tínhamos visto, os
terrenos eram muito distintos dos do Pico, muito mais fechados, com muitas
covas ladeadas de grandes silvados emaranhados nas típicas Hortências, onde o
material que tinha levado da Hart, seria fundamental, assim como os cartuchos
Especial Becada da Trust, muito úteis naqueles terrenos tão fechados, já que
iriam sair muitíssimo encobertas e complicadas de atirar, seriam tiros
instintivos e rápidos, muito a meu gosto!
Pois bem, a abertura em S.
Jorge foi dentro do esperado, um dia sem chuva e pouco nevoeiro, terrenos lindíssimos,
duros, onde apenas a paixão de um caçador de Galinholas nos faz andar para a
frente! Servir o cão em terrenos destes é uma façanha, aqui se separa o Caçador
apaixonado do matador!
O Don, o eleito para esta
aventura, como sempre não me deixou ficar mal, fez-me lances de sonho, momentos
únicos que jamais esquecerei, mostras fantásticas e intermináveis, onde recordo
o lance que, pela primeira vez vi a Galinhola no chão, imóvel entre mim e o
Don, correndo depois direita ao cão e, saindo na brecha mais improvável daquela
mancha! No final, os 3 tínhamos o cupo e muito para contar, muito para
recordar, jamais esquecerei estes terrenos, estas Galinholas 100% Portuguesas!
Sempre ouvi dizer que caçar às
Galinholas nos Açores não é igual ao Continente, que não tem o mesmo encanto,
que é mais fácil e não que tem a mesma piada, pois bem, agora tenho a minha
opinião, que contraria muito do que ouvi, e muito do que ouvi foi de caçadores
que nunca pisaram os Açores!
Os terrenos são duros, sempre
a subir, temperaturas altas comparativamente com as jornadas invernais no
Continente, altitudes elevadas, muita chuva, nevoeiro e humidade, terrenos
duríssimos de andar, as vacas sempre presentes em terrenos muito empapados,
fazem buracos que dificultam o caminhar a caçadores e cães! Nunca caí tantas
vezes por jornada, nunca me cortei tanto nas silvas, nunca saltei tantos muros
atrás das Galinholas! Nunca perdi tanto tempo para que os cães cobrassem as
Galinholas!
Se dão mais paragem é mentira! Se andam menos a pés, é mentira! Se saem mais a descoberto é mentira! Se vimos mais pássaros por jornada, é verdade! Tirando a densidade tudo o resto é igual ao Continente, uns locais mais fáceis que outros como em qualquer lado, o comportamento é o mesmo, astutas, esquivas, a saírem tapadas, e a caírem em silvados enormes onde o cobro do cão é determinante para o sucesso do lance!
Destes 9 dias, nestas 9 ilhas,
recordo a amizade verdadeira, os belos jantares feitos em casa e acompanhados
noite fora pelas sempre presentes histórias e piadas do Zé, as paisagens inigualáveis, de caçar a ver o Mar e as outras Ilhas do Grupo Central, recordo o
cheiro a hortelã, que fazia de tapete e emanava de forma mais intensa quando
pisada a cada passo que dávamos, as gentes do campo mas hospitaleiras, as
fajãs, lugares magníficos erguidos junto ao mar pela perseverança do Homem, de
acesso mais ou menos complicado em intrincadas e apertadas curvas, e acima de
tudo, recordo os lances dos cães, a magia e experiência do Don imposta em cada
lance e os seus cobros magníficos, os 5 minutos de uma mostra do Jeep da Pedra
Mua (Chopin) que ficou cravado numa Galinhola até o Zé finalmente o conseguir
servir e, depois de 2 disparos, a incerteza desfez-se num cobro magnifico do
cachorro!
Agora venham as do Continente
que estas, são passado!
Obrigado por tudo, Zé!