segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Açores, 9 dias de emoções

Há meia dúzia de meses atrás recebi o convite do Amigo José Carlos Correia, Conimbricense radicado nos Açores há mais de 30 anos, para ir fazer umas férias de caça nos Açores, convite aceite, lá fui eu.
Rumei a S. Miguel onde fui recebido pelo Zé e pela sua simpática e hospitaleira família, chegámos à hora do jantar, esperava-nos uma canja de Pombo Torcaz e umas belas Galinholas feitas à moda do Zé, nada melhor para começar senão com um belo repasto e um ainda melhor serão, onde não faltaram as conversas de Galinholas e os lances marcantes um pouco por todo o lado.
Na manhã seguinte embarcámos bem cedo para o Pico, uma Ilha especial onde ia-mos fazer a abertura, depois de nos instalarmos numa casa onde tínhamos defronte a magnifica vista do Faial e do Porto da Horta, fomos esticar as pernas aos cães, rapidamente o Don pára a sua primeira Galinholas insular, não tardando a serem os outros cães a fazer o mesmo, estávamos radiantes pois não ouvíamos aquele “papapa” há muito, e antevíamos uma abertura proveitosa!

Abertura no Pico:
Domingo, rumámos bem cedo em direção a zonas mais altas, caçámos em cotas a rondar os 1100 metros, o dia apresentava-se soalheiro e muito quente, temperaturas de 20°C humidade a rondar os 90% àquela altitude, dificultavam muito a jornada, minimizava o esforço dos cães o terreno muito molhado e muita água para beberem.
As Galinholas poderiam estar em qualquer lugar, mas os Urzes endémicas a que lhe chamávamos “vassouras”, com fetos secos eram um habitat preferencial! Pouco a pouco íamos tendo lances de sonho, uns melhor aproveitados que outros, lá caíram as primeiras sempre após o excelente trabalho dos cães! Caçámos também em bosques de Criptomérias, muito do meu agrado e do mais belo que já cacei, quando elas encastelam o lance torna-se mágico e indiscritível!
Ao final da manhã todos tínhamos o cupo e muitos lances para contar, uns bem filmados outros lamentavelmente não!
Nessa tarde rumámos de barco para a Ilha de São Jorge, onde iríamos passar o resto da semana para fazermos a abertura no domingo seguinte.
Em São Jorge tivemos uma semana de caça e de pesca, de Garoupas a Sargos e Anchovas, aos Coelhos e aos Pombos da Rocha, estes últimos proporcionaram-nos momentos inesquecíveis de grande tiroteio, bem como belas canjas em jantares sempre bem regados!

Abertura em São Jorge:
Pelo que já tínhamos visto, os terrenos eram muito distintos dos do Pico, muito mais fechados, com muitas covas ladeadas de grandes silvados emaranhados nas típicas Hortências, onde o material que tinha levado da Hart, seria fundamental, assim como os cartuchos Especial Becada da Trust, muito úteis naqueles terrenos tão fechados, já que iriam sair muitíssimo encobertas e complicadas de atirar, seriam tiros instintivos e rápidos, muito a meu gosto!
Pois bem, a abertura em S. Jorge foi dentro do esperado, um dia sem chuva e pouco nevoeiro, terrenos lindíssimos, duros, onde apenas a paixão de um caçador de Galinholas nos faz andar para a frente! Servir o cão em terrenos destes é uma façanha, aqui se separa o Caçador apaixonado do matador!
O Don, o eleito para esta aventura, como sempre não me deixou ficar mal, fez-me lances de sonho, momentos únicos que jamais esquecerei, mostras fantásticas e intermináveis, onde recordo o lance que, pela primeira vez vi a Galinhola no chão, imóvel entre mim e o Don, correndo depois direita ao cão e, saindo na brecha mais improvável daquela mancha! No final, os 3 tínhamos o cupo e muito para contar, muito para recordar, jamais esquecerei estes terrenos, estas Galinholas 100% Portuguesas!

Sempre ouvi dizer que caçar às Galinholas nos Açores não é igual ao Continente, que não tem o mesmo encanto, que é mais fácil e não que tem a mesma piada, pois bem, agora tenho a minha opinião, que contraria muito do que ouvi, e muito do que ouvi foi de caçadores que nunca pisaram os Açores!
Os terrenos são duros, sempre a subir, temperaturas altas comparativamente com as jornadas invernais no Continente, altitudes elevadas, muita chuva, nevoeiro e humidade, terrenos duríssimos de andar, as vacas sempre presentes em terrenos muito empapados, fazem buracos que dificultam o caminhar a caçadores e cães! Nunca caí tantas vezes por jornada, nunca me cortei tanto nas silvas, nunca saltei tantos muros atrás das Galinholas! Nunca perdi tanto tempo para que os cães cobrassem as Galinholas!

Se dão mais paragem é mentira! Se andam menos a pés, é mentira! Se saem mais a descoberto é mentira! Se vimos mais pássaros por jornada, é verdade! Tirando a densidade tudo o resto é igual ao Continente, uns locais mais fáceis que outros como em qualquer lado, o comportamento é o mesmo, astutas, esquivas, a saírem tapadas, e a caírem em silvados enormes onde o cobro do cão é determinante para o sucesso do lance!

Destes 9 dias, nestas 9 ilhas, recordo a amizade verdadeira, os belos jantares feitos em casa e acompanhados noite fora pelas sempre presentes histórias e piadas do Zé, as paisagens inigualáveis, de caçar a ver o Mar e as outras Ilhas do Grupo Central, recordo o cheiro a hortelã, que fazia de tapete e emanava de forma mais intensa quando pisada a cada passo que dávamos, as gentes do campo mas hospitaleiras, as fajãs, lugares magníficos erguidos junto ao mar pela perseverança do Homem, de acesso mais ou menos complicado em intrincadas e apertadas curvas, e acima de tudo, recordo os lances dos cães, a magia e experiência do Don imposta em cada lance e os seus cobros magníficos, os 5 minutos de uma mostra do Jeep da Pedra Mua (Chopin) que ficou cravado numa Galinhola até o Zé finalmente o conseguir servir e, depois de 2 disparos, a incerteza desfez-se num cobro magnifico do cachorro!
Agora venham as do Continente que estas, são passado!

Obrigado por tudo, Zé!