Podia-se pensar que ser caçador de Galinholas é algo simples, fácil qual se vê nos filmes dos recentes e inovadores canais de TV por cabo, um bosque magnifico de carvalhos com folhas douradas caídas no chão a contrastar com o típico musgo que se alapa a velhos troncos que jazem daquele canto criteriosamente esculpido por uma linha de água que teimosamente passa por ali, ladeado de belos fetos, um local que de tão belo nos parece ter sido desenhado por um arquitecto paisagista, onde uma galinhola encaixa tão bem como a cereja no topo de um bolo, um Setter deitado, um levante, um tiro e a imaginação do mais naif dos caçadores bem repostado no sofá a fazer contas do que poderá fazer depois das perdizes fecharem em finais de Dezembro. Terrenos belos, fáceis, com muitas Galinholas é algo distante, muito distante, especialmente um local nosso, só nosso, onde um pássaro errado pode sem dúvida com sorte e persistência ser abatido numa outra jornada, num lance tão válido e belo quanto se exige a um cão de parar, isto é bonito, isto é que transparece nos filmes, isto, isto não é a nossa realidade! A realidade portuguesa na caça às Galinholas é distinta, ser caçador desta bela e nobre espécie é duro, os bosques de carvalhos são poucos e na maioria despidos de Galinholas, estevas, quanto mais velhas melhor, melhor para o pássaro, pior para o caçador, tojo, muito tojo, onde estranhamente a ave se sente tão bem como num magnifico e aconchegante tapete de fetos em França, aqui é duro, terrenos dobrados que nos dobram a alma, cães magníficos, trabalhadores, com carácter e convicção fazem um trabalho que muitos lá fora achariam bárbaro e louco.
O que é então necessário para ser um bom caçador de Galinholas? Dinheiro, Será? Não creio, ajuda, sim é claro como em tudo na vida, mas não é o essencial! Um cão? Não chega, ajuda mas não é tudo, sozinho não é quase nada! A meu ver o principal para ser um bom caçador de Galinholas é ter uma imensurável paixão por esta caça, só com paixão é possível fazer jornada após jornada à procura de uma ou nenhuma galinhola, debaixo de chuva em estevas cerradas e que apesar de não chover, têm tanta água que, com roupa seca acabamos todos molhados, quedas, vergastadas de estevas nos olhos, silvas na cara, pescoço e mãos, que aparecemos no trabalho à segunda-feira e acham que fomos assaltados por um gang perigoso.
Ser um caçador de Galinholas não é difícil, basta comprar um cão, e matar uns pássaros. Ser um bom caçador leva alguns bons anos, para entender as técnicas, conhecer os cães e saber interpretar os seus movimentos, ganhar laços e darmo-nos a conhecer ao nosso companheiro, aprender a posicionarmo-nos nos lances, saber ler o terreno, saber antecipar o pássaro, saber o seu comportamento e o que vai fazer, independentemente do terreno, saber onde entram primeiro, onde se colocam depois, cresce-se com os anos, cresce-se com os cães, cresce-se com os erros mais do que se cresce com as vitorias, menos que isto são historias. Como alguém uma vez disse, “Inicio de Novembro e já começaram a mata-las, começaram cedo este ano!” e a resposta foi “Não! Este ano começaram foi a mentir mais cedo!!!”
O que é então um Bom caçador de Galinholas? É o que abate mais? Não! Longe disso, é o que liberta adrenalina por cada poro em cada lance do cão, é o que num sítio com poucas, mata uma ou nenhuma, mas soube aproveitar e tirar prazer do que viveu, é o que sente os dedos a tremer agarrados ao fuste a cada levante, é aquele que, jornada após jornada chega a casa com os lances na cabeça e com vontade de voltar, mesmo sabendo que provavelmente nem vai ver nenhuma, mas vai com a esperança de haver um cantinho que não foi visto e que pode até ter lá aquele pássaro que nos dará tão extasiaste momento, este caçador que sai para o campo com esta convicção é que a meu ver é, o genuíno Caçador de Galinholas!