Uma gelada e fortíssima lestada varreu este cantinho, era de esperar que entrassem pássaros, eu não pensava que fosse assim, pois algo me dizia que não eram os ventos gelados soprados do lado de nuestros hermanos que trariam os pássaros, pedia-se chuva, pois tenho por experiencia que os pássaros não entram depois destes ventos, mas sim depois da chuva que normalmente se sucede e, assim foi, a chuva com este vento gelado transformou a Europa num cenário branco de neve.
Os pássaros finalmente tinham entrado, não nas quantidades de outros anos, as notícias eram que na Bretanha haviam muitos pássaros, em locais até mais que o habitual, com a Europa debaixo de neve era para Portugal estar pejado de pássaros, mas não, entraram muito tarde e em fracas quantidades, será sem dúvida um ano incaracterístico, fraco com poucos pássaros, aliado a isto terrenos bastante húmidos na generalidade fazem com que haja uma grande dispersão das galinholas, sendo de menor relevo as zonas de crença habitualmente mais húmidas que as Galinholas elegem em anos secos.
Uma madrugada de feriado de Dezembro apresentava-se pouco prometedora em termos de clima, no caminho caía sobre o carro um granizo forte e espesso, surpreendentemente acalmou e transformou-se em chuva fraca com uma ou outra altura de chuva forte.
Com o Veron com tosse de canil levei o Faruck, que seguramente agradeceu a doença do Amigo.
Como esperado a zona de crença estava despida de pássaros, o cão alheio a anos de entradas fracas ou fortes, dando apenas importância ao que realmente conta para ele, o aroma da Dama, depressa dá com o rasto de um pássaro, que sai larguíssima sem hipótese do cão se chegar perto, saindo mesmo da mancha para uma zona despida com um pastinho pequeno, nitidamente não conhecia ainda a mancha, não dominava o terreno tinha entrado provavelmente nessa noite ou na noite antes.
Meto o cão a fazer o terreno circundante da mancha, junto à estrema da mancha, pois era aí que pensava que ela estava, mas nada, voltei atrás e faço o terreno no mesmo sentido mas mais por fora, o cão com lances largos depressa deu com ela, ficando parado a descoberto, acerco-me sabendo que naquele terreno atípico ela ia sair largo, o cão desmancha a paragem e guia muito rápido ficando novamente parado, sai então larguíssima mas ao alcance de um singular disparo, a primeira tinha tombado, estava contente, parada pelo cão e nitidamente pensada por mim, a primeira ideia para os mais distraídos seria procurar na mancha mais à frente de onde levantou primeiramente, mas galinholas de entrada fazem isto frequentemente e nem tudo vem descrito nos livros e filmes, há comportamentos que se aprendem com a experiencia, aqui fica mais um.
Magra, muito magra, mais um indício claro de um pássaro entrado recentemente.
Pouco mais de 300 metros percorridos e o cão parado junto a um caminho, seguia-se algo fantástico, que nos faz sentir vivos e nos dá alento para levantar de madrugada ao fim de semana. O Faruck, desmancha a paragem e segue no rasto, novamente parado, eu a sentir que ela ia sair, e novamente a desmanchar e a parar mais à frente, numa zona mais fechada, mas não ficava por ali, mais uma vez a sair no rasto e a parar novamente o beeper tocava e calava-se, tocava e calava-se, o pássaro sai completamente tapado, dando apenas para atirar numa nesga dos pinheiros, errada, que pena, gostava de ter dado melhor final ao lance mas, galinholas é isto mesmo. Ainda a vi levantar instantes antes do cão ficar parado onde saíra e nunca mais a vi.
Numa outra mancha, esta fechadíssima, de pinhos novos e muitos juntos, com tojo e sargaço no chão, o cão fica parado por instantes, dando apenas para ver que estava parado, nem o beeper tocou, e o pássaro levanta fazendo uma volta acrobática entre os pinheiros, atirei com a convicção que não tinha hipótese, mas não é a primeira vez que me surpreendo com estes disparos, mas desta vez não, vejo-a voar por cima dos pinheiros parecia um pombo, foi para longe.
De volta ao carro decido ir ver uma mancha que por vezes tem um pássaro e, estava certo, o cão depressa pega num rasto, levava-a à frente do nariz, talvez ela o levasse nas costas, isso agora só eles sabem, com o final da mancha logo ali percebi que não tardava levantaria sem que o cão a pudesse parar, assim foi, logo de seguida levantou mas acabaria por sucumbir a um tiro rápido e fácil.
4 levantes e 2 abates, lances inesquecíveis do cão transformaram esta manhã chuvosa numa manhã fantástica, estavam ali as primeiras duma época que se prevê dura, atípica, fraca em abates e que devemos desfrutar com os poucos lances que vão aparecer.