sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Os primeiros pássaros.


Com as primeiras chuvas e as primeiras folhas secas da minha figueira no chão vêm os telefonemas com relatos dos primeiros avistamentos em território nacional do tão esperado ser de bico longo, dia a dia todos nós sabemos de mais um pássaro levantado aqui ou ali por um podengo numa caçada aos coelhos.
Acercam-se também de nós pensamentos mais enérgicos sobre como será a época que se avizinha, será uma época forte, virão em força, estarão onde as esperamos levantar? Estas e tantas outras questões vão-se pondo nas nossas mentes ou em conversas com companheiros de caça, saudáveis lembranças nos acercam, todos os nossos pontos quentes ficam rapidamente disponíveis na nossa mente como se um GPS se trata-se, sabemos já com a devida antecedência onde queremos ir, onde primeiro devemos procurar, dia a dia olhamos para a meteorologia, sabemos mais do tempo que vai na Rússia que os próprios serviços secretos do Kremlin, não há site que nos falhe, esperamos como uma velha vidente a olhar para os búzios e de uma forma mais ou menos infantil antever o seu percurso, olhamos para os ventos como bons ou maus presságios tal qual as linhas da vida na palma da mão lidas por uma cigana. Mas não, talvez não seja assim tão infantil, talvez seja a forma como cada um de nós lida com a ansiedade de 9 meses de espera, não cheguei ainda ao ponto de riscar dias num calendário, pois acho que a espera seria ainda mais dolorosa, luto contra o tempos com um filme aqui outro ali, uma perdiz e uma lebre morta aos cães mais novos para lhe dar alento e o olhar triste e conformado dos mais velhos ao ficarem em casa sabendo que os mais novos andam a divertir-se com as orelhudas e perdizes, mas os mais velhos não estão esquecidos, apenas com receio de se aleijarem ficam qual craque da bola, no banco, esperando para entrarem nos grandes palcos e nos grandes jogos, aqueles onde eles fazem a diferença.
A espera é sem dúvida longa e angustiante, mas estes momentos próximos são também eles mágicos, este nervoso miudinho, o passa a palavra dos primeiros avistamentos, os telefonemas, o acompanhar das migrações e a noite da véspera da primeira jornada são momentos de difícil explicação, apenas posso dizer que são momentos únicos que poucos entendem e ainda menos os vivem.