segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A beleza do primeiro abate.

A pedido de alguns dos seguidores do meu Blog, regresso aos meus relatos sobre as minhas jornadas, pelo menos um deles não precisa dos meus relatos, pois vive a meu lado os lances, ou melhor vivemos os lances um do outro, com entrega e respeito.

Após algumas jornadas desfrutando ao máximo de lances magníficos, aqui fica com um certo atraso o relato da jornada com o primeiro abate da época, aquele que fala sempre mais alto, pois são meses de espera, de angústia e, mais perto até alguma ansiedade pelo primeiro levante.
Com umas tantas jornadas precoces deu para ver que a época era sem dúvida uma época que começariam cedo os levantes, em Outubro já se ouviam noticias de levantes e no inicio de Novembro de abates, cedo também eu constatei que seria uma época diferente.
Na segunda jornada errei o primeiro pássaro parado pelo cão, numa manhã em que me parou 3 Galinholas e não logrei nenhum abate, apenas o companheiro abriu a época, eu fiquei a zeros, dando apenas para ver que os meses de interregno não levaram ao Faruck o seu jeito natural para encontrar, trabalhar e parar Galinholas pois, após tantos meses pára 3 Galinholas de entrada, sempre mais difíceis de parar e controlar, como se fossem pássaros de final de época, infelizmente duas não consegui sequer atirar e outra delas parada numa limpa a uns 200 metros de mim, que depois de bem bloqueada e com o beeper a tocar incessantemente, saiu-me a beijar o chão limpo, quase como um coelho, ainda lhe toquei com o único tiro que fiz, quase que caiu mas vá-se lá saber porquê ganhou fôlego e rodou para trás e foi passar a jeito do companheiro que a meteu no chão, e que assim abria a época, nesse dia o cão ainda me parou uma das de manhã novamente numa limpa, mas desta vez nem sequer deu para me aproximar, saindo o pássaro largo.

Bem mas deixando para trás momentos de gloria para o pássaro relato então a minha terceira jornada, a que fiz os primeiros abates.
A manhã era como tantas outras, com o coração cheio de convicção, a convicção que me faz levantar cedo para ir para o campo, a forte convicção de que viverei novamente momentos que só um “Becadero” entende. Desta vez sozinho no campo, acompanhado apenas pelo cão, como tanto gosto, fazendo as coisas somente à minha maneira dando as voltas a gosto, vivendo os lances na sua totalidade.
Comecei nem sei porquê um pouco mais acima da mancha habitual, mal saio do caminho e meto o cão na mancha, este começa a fazer um rasto muito forte, conhecendo o cão como eu conheço, percebi o que seria, não queria acreditar, um pássaro a abrir o pano, o cão alheio dos meus pensamentos fazia o trabalho dele, mas perderia o rasto do pássaro, àquela hora da manhã isto por vezes é normal, pássaros de entrada na borda de um caminho que ficam ali mal se mexem não deixando muitas pistas para o cão trabalhar, mas cada um saca os Galões que tem, foi o que fez o Faruck, fazendo então um lance digno de registo, o terreno é uma espécie de chapada ligeiramente a subir, o cão na base da mesma perdendo o rasto faz à velocidade alucinante dele um lance até ao cimo do terreno no limite do mato, vindo a lancear da direita para a esquerda direito a mim que estava na zona inicial onde ele sentiu o pássaro, a não mais de 20 metros de mim o cão faz uma derrapagem, ficando parado virado para o lado oposto de onde vinha, um pinheirito pequeno e um tojo mais alto escondiam um pássaro cansado da viagem que teimava em não sair, o som do beeper tocava conta de mim, ajeitei-me e o pássaro sai de uma forma atabalhoada, nitidamente fruto do cansaço, abatida ao primeiro tiro. 3 Minutos não mais, 3 minutos à Faruck e a nobre sensação do primeiro cobro da época, jamais esquecerei este lance, a inteligência do cão, que após ter perdido o rasto usou a cabeça e fez toda a mancha para encontrar um pássaro que ele sabia que estava ali.
Passado não mais de 5 minutos ali estava ele novamente parado, com uma das conhecidas dele, como velhos conhecidos defrontavam-se novamente, desta vez parada bem longe, o cão guiou mais de 30 metros de cabeça no ar, ainda assim o pássaro sempre a pés levanta-me larga, eu erro-a e vejo-a ir morrer indignamente nas mãos de um coelheiro, por estranho que possa parecer e sem me sentir melhor que ninguém, senti pena, quase luto por aquela Galinhola, por ter morrido de uma forma indigna e sem história, olhei pelo canto do olho e vejo o pássaro enpiolado pela cabeça, manchando de sangue umas calças camufladas, um triste cenário! Um forte suspiro e lá continuei lamentando a perda.
Era hora de pensar o resto da jornada, decido ir ver uma zona de entrada, que mete uns pássaros na entrada, o cão esse conhece cada tojo, cada pinheiro, e cada cantinho que a Dama gosta de se esconder. Imbuído nos meus pensamentos desperto com o Beeper a tocar, ali esta mais uma, acerco-me do cão e ele sai a guiar ficando novamente parado com o pássaro, sai tapada e erro-a, uma asneirada forte e a convicção de que o cão a encontrava novamente, pois bem não mais de cinco minutos e aí estava ele novamente com ela no nariz, perfeitamente controlada desta vez abatida ao primeiro tiro, não consigo descrever o que se sente ao ver o cão com ela na boca, é algo surreal, quase mágico, há tanto que não sentia esta emoção.
Mais umas voltas para tentar fazer as 3, e numa zona de tojo serrado, duríssimo para caçadores e cães, o cão faz a mancha toda no esconde e encontra com mais um pássaro, o rabo parecia uma ventoinha que só roda assim quando ele tem uma Galinhola pela frente, eu colado ao cão de mãos cravadas à arma esperava que ela saltasse a qualquer momento, mas não o cão bloqueia a Galinhola junto a uns pinhos pequenos, beeper a tocar, sentia o coração a latejar nas mãos que fortemente seguravam a arma, o cão, esse nem mexia, eu sabia para onde ela ia sair, só podia ser por ali, e sai mesmo, erro-a com os 2 tiros, não queria acreditar, como é possível isto, saiu-me até boa. Este pássaro curiosamente foi parada mais 2 vezes pelo cão mas sempre sem me deixar sequer atirar, até que algum coelheiro a deve ter abatido, deixei depois de a ver.
Uma jornada repleta de lances magníficos 2 abates e um trabalho de mestre do cão, que qual Vinho do Porto, melhora com os anos.