segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Do 80 ao 8.


Este Fim de Semana teve um sabor agridoce.

Um Sábado que jamais esquecerei e que se iniciava cedo como sempre e com muito frio, tinha levado apenas o Don, deixava a Íris para Domingo, pois tinha já um convite de um Amigo.
Ainda a recuperar de uma gastroenterite, cada vez que o beeper tocava servir o cão era um para mim um suplicio, a primeira Galinhola era uma velha conhecida, já a tinha errada várias vezes, já tinha sido bloqueada também várias vezes por todos os meus cães, era uma sobrevivente, astuta e inteligente! 
O Don mal chegou ao domínio da Dama rapidamente entra em mostra, mas ela provavelmente já tinha saído, o cão acabou por ficar novamente em mostra no cabeço do lado, apenas separado por um vale que ela conhece melhor que nós. Apresso-me a servir o cão, seguiram-se uns intermináveis e emocionantes 20 minutos de mostras e guias, sempre sem ela se mostrar, literalmente um jogo vertiginoso de caçador e presa, o cão veio sempre com a Galinhola no nariz do cabeço do lado até ao reduto desta Dama onde a tinha parado inicialmente, até que, a bloqueia definitivamente, apresso-me a servir o cão mas, com tanta pressa, caí, a Galinhola utiliza esse momento para escapar, levanta toda destapada enquanto eu estava no chão, utilizou o meu erro para se furtar, como são inteligentes, uma vez mais foi melhor que nós e especialmente que eu! Outros encontros e outras batalhas certamente nos esperam.
Era tempo de ver outra das resistentes, vi-a levantar a uns 80 metros, muito antes de eu ou o cão lá chegarmos, vou no encalço dela, o Don rapidamente dá com ela, cabeço a baixo sempre num alternado de mostras e guias que parecia não ter fim, percebi que o jogo ia terminar, pois aproximava-se o final da mancha, restava o caminho e pasto, ela teria de levantar antes disso, assim o fez mas, tapada, errei-a num único disparo possível, mais uma que fica para outras batalhas.
Ainda a recuperar da gasteroenterite, um pássaro errado, outra que levanta a descoberto quando eu me "espalho" nada parecia correr bem, já rotulava esta jornada como uma grande "grade", cacei muito mas não tinha cobrado nada até que, de volta novamente a uma das da manhã, o Don num caminho entra em mostra a meus pés, mato à esquerda, pasto à direita, dava-lhe suaves toques de calcanhar para ele guiar, parecia os treinos com caça mansa, até que, por mais toques que eu desse ele recusava-se a andar, sai a Galinhola toda a descoberto para o pasto, facilmente abatida e cobrada, estava radiante, senti que a viagem longa e até ali a dificl manhã tinha sido finalmente recompensada, no entanto o Don não se dava por satisfeito e, não mais de 5 minutos volvidos, entra em mostra numa zona onde na primeira jornada de Galinholas em Novembro ali tinha sido uma indultada, levantada aos pés e não atirada, no entanto não seria ali que o lance terminava, seria numa zona lindíssima e mais fechada, quando me aproximo para o servir, sabia que estava com ela, os olhos vidrados, mordendo o lábio de cima e com uma posição meio sentado todo esticado como indicando-me onde ela estava, dei-lhe um ligeiro toque e ele não queria andar, isso tirava as duvidas, entre muitas posições que poderia assumir, escolhi aquela que achava a mais vantajosa tendo em conta o terreno e onde previa que ela poderia sair, por vezes falha, aliás, muitas vezes falha, mas não, desta vez não falhou, saiu numa aberta entre uns pinheiros, dando hipótese de um tiro certeiro, o Don estava cansando, ainda assim cobrou a Galinhola, são estas coisas que fazem dele quem ele é, o que ele é, um Grande, um Enorme Cão, que eu agradeço todas as jornadas, todos os dias, por ele pertencer à minha equipa, obrigado Don, provaste uma vez mais o óbvio, que até fecharmos a porta do carro, tudo é possível!

Domingo, Santarém, muito frio, 6:44h, logo a sair da autoestrada, uma Galinhola que iluminada pelos faróis do carro se mostra toda, a voar junto da placa de indicação foto-luminescente que montada num pórtico que atravessa a estrada nacional indica aos condutores a direcção, linda lá ia à sua vida, tentando sobreviver a mais um domingo de caça.
Começámos num terreno muito típico, duro e lindíssimo, fantástico diria mesmo, pouco depois de começarmos a Fly da Pedra Mua, a Setter do Anfitrião e Grande Amigo Nuno, faz-se ouvir no cimo de um cabeço, um ganido que eu rapidamente relatei, "Nuno, levou uma porrada de um porco!" chegou ao pé de nós, de cabisbaixo e meia desengonçada, uma rápida olhadela e era óbvia a porrada do Javali, um grande lenho por baixo, lá tinha de levar uns pontos, ainda andou meia hora aos nossos pés, mas depois recuperou psicologicamente, uma grande cadela, um grande carácter, uma grande filha do Don!
A Íris coitada mal a deixei caçar, ao contrário do habitual, tirava-a do mato, o meu medo dela ser colhida por um javardo era grande, pois aqueles terrenos literalmente cheiravam a porco, chegámos a comentar isso em duas ocasiões, nem era preciso cão para sentirmos o intenso cheiro, tal era a densidade de porcos, o terreno parecia lavrado pelos porcos, a pegadas acompanharam-nos a jornada toda, ao ponto das cadelas a caminho do carro levantarem mais um.
Resumindo, não vimos Galinholas e, a Íris foi por mim impedida de caçar e de ser ela própria mas, antes assim que perder uma cadela como esta por causa dos porcos!