domingo, 22 de janeiro de 2017

Mexeu mas pouco.

Um Homem também erra quando assim tem de ser, já dizia a bela letra da musica do Pedro Abrunhosa, pois bem, a jornada começava assim logo a abrir, a Íris a parar junto a um silvado, não pensei que fosse uma Galinhola, quem sou eu para achar se é ou não um pássaro, afinal de quem é o nariz? A Íris alheia às minhas crenças fazia o trabalho dela, bem parada rompendo apenas a mostra para em guia entrar dentro do silvado e voltar a fazer tocar o beeper, toda deitada, linda, ouço a Galinhola a romper o silvado, vejo-a numa nesga entre um encruzilhado de estevas e ramas de pinheiros novos, não atirei, poderia? Não sei, foi tão rápido que não sei, talvez sim, o mais certo é que não, pois bem, a realidade é que não atirei!
A Íris não deu 2 minutos e estava outra vez com ela, bem parada novamente, aí sim atirei, ao lado, errei-a com 2 tiros, olhei para as horas, 08:07, começava bem, ou mal, consoante a visão, talvez um misto dos dois, o que é certo é que a cadela merecia que eu desse um melhor final aquele lance, enfim, já ando nisto há muito e sei bem que faz parte.
Pouco depois mostras e guias, guias e mostras, eu sempre de coração acelerado, cada toque do beeper era como uma injecção de adrenalina, sabia que a cadela estava com uma Galinhola, veio com a Galinhola no nariz mais de 400 metros, até que a vejo levantar numa aberta, sobrevoou os eucaliptos, fomos no encalço dela, batemos o óbvio e nada, mas por vezes elas metem-se em todo o lado menos nos óbvios.  
Decido ir ver uma crença, pois achei que o frio que se fez sentir durante a semana poderia trazer algum pássaro novo, e as minhas suspeitas confirmaram-se, na zona onde pensava que poderia estar um pássaro, estava mesmo, a Íris veio com ela desde o cimo do cabeço até ao vale, bloqueando-a finalmente a tiro numa zona mais fechada, a Galinhola sai a encastelar, abatida fácilmente, caiu quase na boca da cadela, bem cobrada, aí estava a primeira, um grande lance da cadela e o sorriso era outro, o ânimo o mesmo, não são as erradas que me tiram o ânimo.
A cada passo que dava pensava na Galinhola que tinha saído de manhã sem ser atirada, tinha corrido tudo sem sinal dela, só podia estar no vale entre os dois cabeços, uma zona despida, com pedras e muito estreita, decido lá ir, a Íris depressa fica em mostra no cabeço em frente ao meu, perto de mim, virada para baixo, um grande barroco de pedra tapava-me parte da visão, dou um passo atrás para ter melhor ângulo, a Galinhola sai muito rápida, o barroco não atrapalhou e é abatida muito facilmente, aí estava a segunda da jornada, bem parada mas acima de tudo, bem caçada. Galinholas é isto, é trabalho em equipa, o nariz é dos cães, mas temos de ser nós a conduzi-los, a mete-los nas crenças, a olhar para o terreno e a pensar, ponderar e magicar estratégicas para conseguir dar a volta àquele pássaro astuto que nunca dá a mão, embora tenha a convicção, que há cães que são mais caçadores que muitos caçadores, e só lhes falta levarem a espingarda.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Galinholas é isto!


A viagem como sempre era longa, desta vez um pouco mais que o costume, levanto-me de madrugada, os cães quando me sentem despertam, é um enigma que não sei explicar, nos dias de ir para o trabalho também cedo ainda de noite por estes dias de Inverno, nenhum deles sai da casota, em dias de caça, vá-se lá saber porquê todos eufóricamente se mostram, como que num misto de desespero e esperança que sejam os escolhidos para essa jornada, pois bem, desta vez calhava em sorte à Íris, talvez para a compensar de a ter inibido de caçar no domingo passado por causa do meu receio dos javardos.
A viagem é feita de noite ao som do rádio, sem noticias, estes momentos são meus, só meus, quero distanciar-me do mundo e entrar num mundo somente meu, onde têm lugar apenas os cães e a natureza, entramos em estrada de terra batida, a Íris desperta, dá os primeiros sinais de impaciência, os Piscos levantam à minha passagem, frio, muito frio faz com que os Tordos mais madrugadores dêem sinal, ouvem-se as primeiras perdizes, um a um os chocalhos das vacas começam a cantar, a Lua redonda e enorme teimava hoje em ficar até mais tarde, como que cumprimentando o Sol, olho para os lados pensando por onde começar, botas, safões e colete, por esta ordem e estou pronto, solto a cadela, indecisa se estica as pernas ou se, se empoleira em mim para lhe meter o beeper, escolhe a segunda opção, a Paixão fala mais alto que a necessidade, enquanto depois ela estica as pernas eu calço as luvas e pego nas espingarda, agora sim, estou pronto.
O terreno é imenso, duro, desconhecido, muito dobrado e com muito mato, começamos a nossa demanda, há medida que o tempo passa, vamos ficando impacientes, nem um toque, nem um levante, apenas um bando de perdizes que a Íris mete à minha mercê, bonitas e bravas, fizeram-me cravar as unhas ao fuste a cada passo felino da cadela, uma vez mais tinham-me enganado, mas estas não valiam, tinham o bico demasiado curto e vermelho, procurávamos algo diferente.
O tempo ia passando, 10h, 11h, meio dia e nem um levante, há muito que aprendera que caçar Galinholas é isto, e em nunca atirar a toalha ao chão, em nunca desistir de um levante até meter o cão no carro, mas hoje não estava fácil, 13h sempre a caçar em terrenos difíceis e nada, até que, um típico "pápápá" me despertava os sentidos, uma Galinhola que se levantava espontâneamente numa encosta, sem ser importunada por mim ou pela cadela, denunciou-a apenas o barulho que fez, se por ventura não se faz ouvir talvez o final fosse outro, os terrenos secos fazem isto, pássaros que levantam longe ao minimo ruído, e a andarem muito a pés. Vi que esta Galinhola tinha ido para o cabeço em frente, faço o óbvio, começar mais por baixo à esquerda, a Íris numa zona de pasto, já fora da zona de mato e Eucaliptos entra em mostra virada para mim, a Galinhola sai à direita dos dois, toda a descoberto, facilmente abatida e cobrada, olho para o relógio, 13:30h, a minha cara era outra, estava feliz, tinha a jornada feita, agora o que mais viesse era um complemento.


A Íris talvez pensasse de outra maneira, pouco mais de meia hora e faz cantar novamente o beeper, não via a cadela, estava num barranco, apenas ouvia o beeper, quando ouço a Galinhola a bater asas com vigor, dando tudo por uma fuga, a encastelar, bico virado ao Sol, linda, mostrou-se toda por entre os ramos dos pinheiros, eu ainda estava a alguma distancia mas ainda assim faço um tiro, não lhe toco creio eu, mas ela ficou surpreendida, pois não me tinha visto nem estava a par da minha presença, tinha rodado para a esquerda, a Íris rapidamente dá com ela na extrema da mancha, aí sim, já consigo servir convenientemente a cadela, saiu para o sujo, atiro e ela dá duas voltas no ar, mando cobrar, e cobrar e cobrar, e nada, estranhei, a Íris que cobra exemplarmente não encontrava a Galinhola, uma vista de olhos mais aprofundada e, ali estava ela, viva em cima dos ramos de um pinheiro manso, estiquei-me para a alcançar com a ponta do cano, mandei-a ao chão, assim que pisou terra desata a fugir, pensei, "já foste" mas a cadela depressa dá com ela e traz-ma à mão, estava radiante, pois uma manhã difícil e dura tinha dado os seus frutos, a Íris uma vez mais tinha cumprido e eu, também uma vez mais tinha relembrado que, isto das Galinholas só acaba no fim.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Do 80 ao 8.


Este Fim de Semana teve um sabor agridoce.

Um Sábado que jamais esquecerei e que se iniciava cedo como sempre e com muito frio, tinha levado apenas o Don, deixava a Íris para Domingo, pois tinha já um convite de um Amigo.
Ainda a recuperar de uma gastroenterite, cada vez que o beeper tocava servir o cão era um para mim um suplicio, a primeira Galinhola era uma velha conhecida, já a tinha errada várias vezes, já tinha sido bloqueada também várias vezes por todos os meus cães, era uma sobrevivente, astuta e inteligente! 
O Don mal chegou ao domínio da Dama rapidamente entra em mostra, mas ela provavelmente já tinha saído, o cão acabou por ficar novamente em mostra no cabeço do lado, apenas separado por um vale que ela conhece melhor que nós. Apresso-me a servir o cão, seguiram-se uns intermináveis e emocionantes 20 minutos de mostras e guias, sempre sem ela se mostrar, literalmente um jogo vertiginoso de caçador e presa, o cão veio sempre com a Galinhola no nariz do cabeço do lado até ao reduto desta Dama onde a tinha parado inicialmente, até que, a bloqueia definitivamente, apresso-me a servir o cão mas, com tanta pressa, caí, a Galinhola utiliza esse momento para escapar, levanta toda destapada enquanto eu estava no chão, utilizou o meu erro para se furtar, como são inteligentes, uma vez mais foi melhor que nós e especialmente que eu! Outros encontros e outras batalhas certamente nos esperam.
Era tempo de ver outra das resistentes, vi-a levantar a uns 80 metros, muito antes de eu ou o cão lá chegarmos, vou no encalço dela, o Don rapidamente dá com ela, cabeço a baixo sempre num alternado de mostras e guias que parecia não ter fim, percebi que o jogo ia terminar, pois aproximava-se o final da mancha, restava o caminho e pasto, ela teria de levantar antes disso, assim o fez mas, tapada, errei-a num único disparo possível, mais uma que fica para outras batalhas.
Ainda a recuperar da gasteroenterite, um pássaro errado, outra que levanta a descoberto quando eu me "espalho" nada parecia correr bem, já rotulava esta jornada como uma grande "grade", cacei muito mas não tinha cobrado nada até que, de volta novamente a uma das da manhã, o Don num caminho entra em mostra a meus pés, mato à esquerda, pasto à direita, dava-lhe suaves toques de calcanhar para ele guiar, parecia os treinos com caça mansa, até que, por mais toques que eu desse ele recusava-se a andar, sai a Galinhola toda a descoberto para o pasto, facilmente abatida e cobrada, estava radiante, senti que a viagem longa e até ali a dificl manhã tinha sido finalmente recompensada, no entanto o Don não se dava por satisfeito e, não mais de 5 minutos volvidos, entra em mostra numa zona onde na primeira jornada de Galinholas em Novembro ali tinha sido uma indultada, levantada aos pés e não atirada, no entanto não seria ali que o lance terminava, seria numa zona lindíssima e mais fechada, quando me aproximo para o servir, sabia que estava com ela, os olhos vidrados, mordendo o lábio de cima e com uma posição meio sentado todo esticado como indicando-me onde ela estava, dei-lhe um ligeiro toque e ele não queria andar, isso tirava as duvidas, entre muitas posições que poderia assumir, escolhi aquela que achava a mais vantajosa tendo em conta o terreno e onde previa que ela poderia sair, por vezes falha, aliás, muitas vezes falha, mas não, desta vez não falhou, saiu numa aberta entre uns pinheiros, dando hipótese de um tiro certeiro, o Don estava cansando, ainda assim cobrou a Galinhola, são estas coisas que fazem dele quem ele é, o que ele é, um Grande, um Enorme Cão, que eu agradeço todas as jornadas, todos os dias, por ele pertencer à minha equipa, obrigado Don, provaste uma vez mais o óbvio, que até fecharmos a porta do carro, tudo é possível!

Domingo, Santarém, muito frio, 6:44h, logo a sair da autoestrada, uma Galinhola que iluminada pelos faróis do carro se mostra toda, a voar junto da placa de indicação foto-luminescente que montada num pórtico que atravessa a estrada nacional indica aos condutores a direcção, linda lá ia à sua vida, tentando sobreviver a mais um domingo de caça.
Começámos num terreno muito típico, duro e lindíssimo, fantástico diria mesmo, pouco depois de começarmos a Fly da Pedra Mua, a Setter do Anfitrião e Grande Amigo Nuno, faz-se ouvir no cimo de um cabeço, um ganido que eu rapidamente relatei, "Nuno, levou uma porrada de um porco!" chegou ao pé de nós, de cabisbaixo e meia desengonçada, uma rápida olhadela e era óbvia a porrada do Javali, um grande lenho por baixo, lá tinha de levar uns pontos, ainda andou meia hora aos nossos pés, mas depois recuperou psicologicamente, uma grande cadela, um grande carácter, uma grande filha do Don!
A Íris coitada mal a deixei caçar, ao contrário do habitual, tirava-a do mato, o meu medo dela ser colhida por um javardo era grande, pois aqueles terrenos literalmente cheiravam a porco, chegámos a comentar isso em duas ocasiões, nem era preciso cão para sentirmos o intenso cheiro, tal era a densidade de porcos, o terreno parecia lavrado pelos porcos, a pegadas acompanharam-nos a jornada toda, ao ponto das cadelas a caminho do carro levantarem mais um.
Resumindo, não vimos Galinholas e, a Íris foi por mim impedida de caçar e de ser ela própria mas, antes assim que perder uma cadela como esta por causa dos porcos!