domingo, 4 de novembro de 2012

Abertura 2012.

Um feeling, uma quase certeza de que este ano a chegada das primeiras Galinholas ia ser muito cedo, demasiado frio nas zonas de nidificação, algumas já com -25°C, uma vaga de frio na Europa e uma lestada forte durante 3 dias era o suficiente para me deixar o corpo num estado de stress e aceleração que não sentia desde Fevereiro passado, tudo isto e mais uma vontade imensa de ver uma Dama numa altura pouco propicia fez-me preparar todo o material. A calibre 20 retornou ao armeiro, a minha bela Becadera (justaposta especial galinholas) fechada desde Fevereiro aguardando o retorno das Belas Damas, respirou novamente o ar frio do Inverno.
Encerrado comigo mesmo e com os meus pensamentos sobre o que se avizinhava, preparei e verifiquei pormenorizadamente todo o equipamento, os beepers todos com pilhas novas teriam de ser reprogramados, lá os ia testando enquanto os meus pensamentos eram interrompidos pelo barulho dos cães inquietos que, ao ouvir os beepers, perceberam que tudo estava próximo, sorri, sorri com a alegria de ver a paixão dos cães que alegremente se manifestavam ao ouvirem novamente um som que lhes é tão familiar. Os coletes laranjas saem do armário, um a um colocava os cartuchos no colete, olhando para eles com a fé de que alguns deles ditariam o fim à mais bela das faenas e que outros não cumpririam o papel para o qual tinham nascido.
Os chocalhos, ouvi-os a todos, apesar de pouco os utilizar o seu som romântico é quase como um embalo ao meus ouvidos, escolhidos os 3 que ficarão de prevenção para algum momento.
Dia 31, o meu sogro pergunta-me: “então quem levas amanhã?”
Rapidamente e sem hesitação respondo: o Faruck!
Ele sorri e responde: “Então estás com fé!”

O Faruck foi sempre o cão que me acompanhou nas aberturas, o cão que deu sempre a primeira da época, apesar de que, como a justaposta, não saía desde a passada época, vou leva-lo, é mágico, com ele tudo é mágico, sei porque sei, sei porque o conheço como me conheço a mim. Se entraram Galinholas ele encontra-as e, mesmo velho e em baixo de forma, para-as e dá-mas à morte, não que os outros não o façam com a mesma eficácia mas, o Faruck é parte de mim e abertura sem ele, não é abertura.

Dia 1, a abertura.
Tentei não ir com demasiada esperança, afinal era  o primeiro dia de Novembro, dia de Bruxas não de Galinholas, nunca antes de dia 15 tinha saído ao campo às galinholas mas, tinha um feeling.
O Faruck saía com a força da sua longínqua juventude, rápido e alegre, na primeira zona de crença, antes de entrar o cão, ouço um, PA PA PA, uma galinhola pensei, mas não, era um torcaz que saia do chão que habitualmente é ocupado por uma ave de bico longo, formatado já para as galinholas, estupidamente nem atiro, enfim.
Pouco depois o Faruck faz a primeira paragem, uma lebre a sair e a fazer uma série de reviengas no espaço de 3 metros quadrados, consegue livrar-se do cão, mas não de 40g de chumbo 9, uma lebre a primeira da época.
Uma a uma ia visitando as zonas de crença, consciente de que nas entradas os pássaros podem estar em qualquer zona, na borda de qualquer caminho.
É então que numa zona muito querençosa o Faruck faz tocar o beeper, será? Questionei-me! Ele não costuma ser mentiroso, mas não saiu nada, o cão faz um rasto e pouco depois fica parado, sem se aperceber a primeira da época a mostra-se, linda, tão linda como as outras mas com a beleza única de ser a primeira da época. Não lhe atirei, limitei-me a contemplar o seu voar e a acompanhar o seu percurso, tinha pousado logo ali, na base de uma mancha de estevas e mato alto, o cão pouco depois fica novamente parado, sem hipótese de me colocar ela saía completamente tapada, um tiro e a primeira errada, repito duas vezes a mesma asneira e penso para mim que esta estava embruxada. Olho para o cão com alegria, com uma contemplação quase mítica, quase divina, largos meses sem ir ao campo, a ver os outros sair, e a parar 3 vezes uma galinhola de entrada, com uma facilidade e uma calma impressionantes.