quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Não é como começa, mas como acaba!

Mais uma jornada que se avizinhava molhada, a noite tinha sido violentamente assolada por fortes chuvas e vento, a madrugada apresentava-se mais amiga, ainda assim molhada, a caminho da zona tivemos o grato prazer do vislumbre de um bando infindável de torcazes, tantos que nem nos atrevemos a quantificar para não cairmos num erro que roçaria os vários milhares e muito provavelmente para menos.
Já depois do encontro com outro Amigo que nos ia acompanhar nesta manhã de caça, lembrei-me subitamente que me esquecera no meu carro da minha mala da caça, com cartuchos, chaves do cadeado da arma, beepers, colete, chapéu etc, confesso ter ficado logo mal disposto, mas tentei levar as coisas na brincadeira, o Pedro tinha uma pequena mala de ferramentas no carro, suficiente para arrombarmos o cadeado, arma pelo menos já tinha, uns cartuchos emprestados no bolso, e um chocalho que o Pedro também me emprestou, desta vez era à moda antiga, pouco a meu gosto, mas era mesmo só de chocalho no cão, nada de tecnologias.
Começámos precisamente no mesmo local da época passada, o terreno é muito dobrado e lindíssimo, do mais belo onde já pisei, se é certo que os olhos também comem, poder-se-á dizer que na caça às Galinholas é onde nos deparamos com os mais belos cenários.

Virava cabeço após cabeço e vinham-me à memória lembranças da época passada naqueles mesmos terrenos, pretendia encontrar uma zona de Estevão que cheira a Galinholas, junto da ribeira onde haviam pássaros no outro, encontrei finalmente a mesma pequena mancha onde tinha já feito um abate, mas nada, bati todos os cantos de Estevão ou as manchas de sargaço, numa outra mancha também de Estevão, o Veron fica parado, o chocalho cala-se, faz-se finalmente silencio, o meu coração batia forte, a adrenalina acercava-se de mim, tenho este Setter há pouco tempo, ainda só o tinha visto trabalhar uma galinhola e parar muito bem parada outra pelo que, estava apreensivo, ele ainda não tinha tido a hipótese de me mostrar o seu real valor. Acerco-me rapidamente dele, ao sentir-me desliza, de forma muito felina, tipicamente setter, ficando novamente parado, um bailado a dois, entre uma Galinhola feita ao terreno e um cão que não se deixava intimidar nem muito menos ludibriar, eu com alguma dificuldade tento acompanhar o cão, novamente parado com ela, mas não ficava por ali, ela decide tentar mais uma vez, ele sentindo o pássaro em movimento, novamente e com grande rapidez desliza por entre o mato, ficando parado virado para baixo, ligeiramente torcido, eu subo um pouco para ter melhor visibilidade, o cão deu todo o tempo do mundo a esta Galinhola, sabia que era desta que se metia no ar, e assim foi, abatida ao primeiro tiro, bem cobrada sentado para entregar, réstias do treino de competição que teve. Vive este lance como poucos, fez-se luz nos meus olhos, percebi que tinha ali um grande cão de Galinholas, que finalmente tinha um Setter de grande qualidade e que acima de tudo poderia deixar o Faruck em casa sem ficar a pensar que com ele as coisas poderiam ser diferentes e em grande parte das vezes melhor.
Ainda vi um outro pássaro que me saiu num alto com pinheiros e voou para o outro lado dos arames e eu pensei que não pertencia ao couto, mas que no final percebi que afinal também era mais do mesmo.
3 levantes e 2 abates para o grupo, numa manhã que começara mal e acabara bem.