sábado, 13 de novembro de 2010

O primeiro levante.

 Confesso que saí de casa com uma pequena expectativa de ver um pássaro, era o primeiro dia no couto, começamos já tarde, pois às Galinholas em zona de caça não há necessidade de começar ao romper do dia, isso é a hora das perdizes não das Galinholas, além de que as Galinholas entram nas manchas vindas das tiradas nocturnas nos prados ao lusco fusco, ficam na primeira hora imóveis a ver se tudo está normal e só depois se começam a movimentar, pelo que nas primeiras horas da manhã é sempre mais complicado especialmente para cães novos, visto não haver ainda rastos.

Eu e o Pedro começámos já mais tarde do que o pretendido, num novo local, duríssimo, apenas ao alcance de verdadeiros amantes desta ave, mas aí nada vimos, mesmo tendo ouvido relatos de levantes na passada semana a quando de uma montaria.
Decidimos mudar de lugar, para terrenos mais conhecidos, os mesmos onde fizemos o fecho da passada época. Saí com o Veron, coitado, novo nas minhas mãos levou uma coça daquelas, chapada a cima em terrenos de estevas e montado com um sargacinho aqui e ali, decoravam a paisagem, o local onde estavam algumas na época passada estava sem nada, o Veron faz a primeira paragem, subtilmente assobio ao Pedro para que percebesse o que se passava, o bepper toca pela primeira vez, o cão desmancha e segue no rasto, saio no encalço, de arma cravada nas mãos sinto o coração bater na ponta dos dedos que agarravam o fuste, adrenalina becadera novamente a circular-me no corpo, é por isto que saio de casa, que cuido dos cães todo o ano, é isto que me move na caça, no rasto o cão segue muitos metros até parar novamente, novamente desmancha e segue mais um bom bocado. Não conheço o cão na presença das Galinholas será a primeira época dele comigo, pelo que sou sincero, dada a distância que ele fez o rasto julguei que fosse uma lebre furtada ao cão, paragem em paragem vi o cão novamente parado numas estevas mais altas, de difícil caminhar naqueles terrenos vejo afastado de mim algo que não soube descortinar de imediato, a consciência fez-me pensar que era uma galinhola a fazer um salto de peixe, a razão pois é cedo para Galinholas fez-me pensar que era a cauda do cão que mexeu por entre as estevas, mas a paixão fez-me ir ver, o cão desmancha novamente daquela forma que sabemos que vai sair algo, ouço assim vindo de uns vinte metros ao lado, Jorge olha aí, era o Pedro que tinha levantado com a cadela a Galinhola, que afinal tinha mesmo feito um salto de peixe e tinha ficado na extrema do caminho, direita a mim ele não atirou, era a nossa primeira da época, grande comentámos, pois era nitidamente um pássaro grande, desconfio que possa ser uma das que não abatemos na época passada, que já ali está há uns dias e que domina na perfeição o terreno.
Ainda a vi mais uma vez, larguíssima e não mais a vimos, em suma, a primeira vista, a primeira não abatida, a primeira da época que nos devolveu um sentimento que forçávamos o coma.
Agora é continuar pois a primeira vai tombar e tudo recomeça.